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CARLOS HEITOR CONY
O voto que não dei
RIO DE JANEIRO - Péssimo cidadão que sempre fui, não cumpri o
chamado "cívico dever" de votar no
último domingo. Votaria nos dois
candidatos a prefeito que se apresentaram ao eleitorado carioca,
mas a lei proibiria este gesto de solidariedade e reconhecimento. Meu
voto seria anulado. Queimando etapas, preferi ficar em casa.
Acredito que o Rio mais uma vez
deu uma mensagem positiva ao
Brasil, escolhendo um prefeito tradicional em termos políticos, jovem, preparado administrativamente para o dia-a-dia inglório de
uma cidade cheia de encantos mil,
mas de problemas também mil.
A novidade foi o candidato derrotado, que trouxe uma idéia nova em
termos eleitorais. Sem experiência
de executivo, pensador em horário
integral, Gabeira explicitou uma
proposta conceitual para o debate
político. Perdeu eleitoralmente,
mas ganhou politicamente.
Resumindo: se eu fosse obrigado
a votar com uma arma nas costas,
teria votado em Paes para prefeito.
Mas guardaria Gabeira para votar
na próxima sucessão presidencial.
Não estaria votando num candidato, muito menos num partido ou
numa ideologia. Estaria votando
numa visão nova de encarar a sociedade e o Estado.
Um prefeito pode ser tradicional,
desde que seja honesto e trabalhador, conhecendo os problemas da
cidade -tal como Paes. Não precisa
ter muita imaginação nem criatividade. Gabeira prefeito seria um
desperdício. Sua formação intelectual, sua acidentada experiência
humana e humanística poderiam
fazer dele o estadista que nos falta.
Utopia não é crime eleitoral.
Felizmente, ninguém me acompanharia nesta idéia talvez extravagante. Daí que preferi ficar na minha, contemplando da varanda,
aqui na Lagoa, os excelentes cidadãos que iam votar com a certeza do
dever cumprido.
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