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ANTONIO DELFIM NETTO
Sinal de alerta
A VALORIZAÇÃO excessiva do
real continua sendo o fator
principal do fraco desempenho do comércio exterior brasileiro. Inviabiliza uma boa parte das
exportações industriais devido à
elevação dos preços numa conjuntura mundial já bastante desfavorável; na mão inversa, facilita as
importações a baixo custo, expondo a indústria nacional à concorrência muitas vezes predatória em
nosso próprio mercado interno.
O argumento de que a valorização do real se assemelha à das demais moedas como contrapartida à
desvalorização do dólar não se sustenta: dados do Fed, apresentados
na atualizada coluna da jornalista
Vera Saavedra Durão no "Valor
Econômico" desta segunda-feira,
mostram que "a taxa de valorização média de uma ampla cesta de
moedas em relação ao dólar foi de
6% entre 31 de dezembro de 2008 e
21 de outubro de 2009, enquanto a
valorização do real foi de 37%".
O governo decidiu agir, aplicando um IOF de 2% na entrada de capital externo (na Bolsa e em renda
fixa). É um sinal para prevenir excessos especulativos, um "aviso aos
navegantes".
Na semana passada, tratei ligeiramente da questão cambial ao comentar as afirmações do presidente da CNI, que procurou mostrar
ao governo que o momento é favorável para restabelecer as condições isonômicas que permitam à
indústria enfrentar a competição
externa. O senhor Armando Monteiro Neto apontou o caminho possível da mobilização do setor industrial para apoiar ações do governo que levem à redução dos custos do crédito à produção e à desoneração das exportações.
Tenho insistido todos esses anos
que é um absurdo cobrar impostos
na exportação de um par de sapatos que vai ser usado por um irlandês ou um alemão que certamente
jamais receberá qualquer contraprestação de serviços do Estado
brasileiro.
Existem formas de intervenção
que, em tempos de crise, são plenamente justificáveis. É o momento
de retomar as iniciativas para uma
nova política industrial, orientada
basicamente para os investimentos em inovação tecnológica. Há
uma revolução em marcha que vai
alterar em profundidade a oferta
de energia, com a substituição da
matéria-prima de origem fóssil
pelas variedades não poluentes e
renováveis.
O Brasil tem parte nesse processo e está mais adiantado que a
maioria dos países emergentes no
desenvolvimento de novas formas
de energia alternativa. Tem experimentos avançados com a biomassa, mas não pode negligenciar
os investimentos em novas tecnologias se pretende garantir o
mercado para a sua indústria nas
próximas décadas.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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