São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2011

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Editoriais

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A visão do BC

Ao longo do ano todo, o Banco Central tem sido criticado em setores do mercado financeiro por suposta leniência no combate à inflação. A autoridade monetária estaria violando o modelo de metas de inflação em nome de proteger o crescimento a qualquer custo.
As críticas foram reforçadas após o surpreendente corte de juros de agosto, quando não estava claro se haveria desaceleração da economia e acomodação dos preços.
Nas últimas semanas, porém, o questionamento diminuiu. Há evidências de que a economia está perdendo vigor. No terceiro trimestre parece ter havido estagnação do PIB. Com isso, as projeções de crescimento para este ano já se aproximam de 3%, contra 3,8% há apenas dois meses. Para 2012, a expectativa caiu de 4% para 3,5%.
Tal quadro decorre do cenário externo e das restrições ao crédito adotadas no inicio do ano, antes da crise. Mas não se trata de colapso. O emprego perde força, mas a taxa de desocupação permanece próxima a 6%, quase o mínimo histórico. Espera-se que a renda continue em expansão, até por conta da forte alta do salário mínimo contratada para 2012, de 14%.
Do lado da inflação, contudo, o quadro ainda não desanuviou. Neste ano, a taxa ficará muito próxima do teto da meta do governo, de 6,5%, e os analistas projetam alta de 5,6% para o ano que vem. A ata da última reunião do Copom, o comitê do BC que decide os juros básicos, indica inflação para 2012 perto de 4,5%, centro da meta.
Desse diagnóstico vem a disposição do BC de antecipar e talvez prolongar no tempo o corte de juros, o que é boa notícia.
É cedo para saber se as hipóteses do BC serão confirmadas, em particular em razão da incerteza sobre o nível da gastança estatal no ano que vem. Da disposição do governo de manter o aperto orçamentário duradouro depende o sucesso da estratégia de colocar os juros abaixo de 10% de forma perene.
As pressões de gastos para 2012 são conhecidas, e pode ser necessário um congelamento de despesas maior que os R$ 50 bilhões deste ano, até porque o forte crescimento de receitas não deve se repetir. Cortar sem comprometer mais investimentos públicos seria uma façanha improvável.
O governo enfrentará temas espinhosos, como renovar o mecanismo que facilita a economia de verbas, chamado de DRU, e derrotar vários projetos que aumentam despesas. Eis um teste de fogo para Dilma Rousseff: segurar as contas em ano de eleições.


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