São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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O bico da pena

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Semana passada, gravando um programa com Fernanda Montenegro, Artur Xexéo e Caetano Veloso, a primeira-dama de nossa cultura fez um breve discurso de improviso, desejando o melhor do melhor para o Brasil no próximo século e, se possível, no próximo milênio.
Falou no presidente da República, o atual, é claro, e não o do milênio inteiro. Afirmou que FHC foi eleito legitimamente. Não havia clima para que eu contestasse a grande atriz, amiga e companheira de programa.
Se pudesse, faria uma distinção nesta legitimidade do atual presidente. Seu primeiro mandato foi legítimo, não há dúvida. Mas o segundo foi arrancado com golpes que, na Velha República, chamavam de ""a bico de pena".
Os tempos mudaram, é claro, as eleições são formalmente respeitáveis. Não há mais o roubo de urnas, listas eleitorais fraudadas, sequestros de mesários -vícios e crimes daquela época.
Em tempos eletrônicos, o bico de pena pode ser substituído por mecanismos outros que, sem serem novos (são velhíssimos por sinal), podem ser abafados pelas conveniências do grupo que está no poder.
Maculando este segundo mandato de FHC temos dois fatos inegáveis: o suborno de congressistas para a aprovação da emenda que mudou uma das mais caras tradições de nossa vida pública e o uso consciente de um embuste monetário (o real equiparado ao dólar), que prevaleceu até os primeiros dias após a posse do reeleito.
O rolo compressor oficial esmagou qualquer pretensão de apurar rigorosamente o suborno. Três deputados renunciaram ao mandato -e não se falou mais nisso. Nem mesmo como e por que houve essa renúncia.
Quanto ao real criminosamente supervalorizado, estamos pagando um preço altíssimo pelo cabo eleitoral mais eficiente de nossa história.


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