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O bico da pena
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Semana passada,
gravando um programa com Fernanda Montenegro, Artur Xexéo e Caetano Veloso, a primeira-dama de nossa
cultura fez um breve discurso de improviso, desejando o melhor do melhor para o Brasil no próximo século e,
se possível, no próximo milênio.
Falou no presidente da República, o
atual, é claro, e não o do milênio inteiro. Afirmou que FHC foi eleito legitimamente. Não havia clima para que
eu contestasse a grande atriz, amiga e
companheira de programa.
Se pudesse, faria uma distinção nesta legitimidade do atual presidente.
Seu primeiro mandato foi legítimo,
não há dúvida. Mas o segundo foi arrancado com golpes que, na Velha República, chamavam de ""a bico de pena".
Os tempos mudaram, é claro, as eleições são formalmente respeitáveis.
Não há mais o roubo de urnas, listas
eleitorais fraudadas, sequestros de
mesários -vícios e crimes daquela
época.
Em tempos eletrônicos, o bico de pena pode ser substituído por mecanismos outros que, sem serem novos (são
velhíssimos por sinal), podem ser abafados pelas conveniências do grupo
que está no poder.
Maculando este segundo mandato
de FHC temos dois fatos inegáveis: o
suborno de congressistas para a aprovação da emenda que mudou uma
das mais caras tradições de nossa vida
pública e o uso consciente de um embuste monetário (o real equiparado
ao dólar), que prevaleceu até os primeiros dias após a posse do reeleito.
O rolo compressor oficial esmagou
qualquer pretensão de apurar rigorosamente o suborno. Três deputados renunciaram ao mandato -e não se falou mais nisso. Nem mesmo como e
por que houve essa renúncia.
Quanto ao real criminosamente supervalorizado, estamos pagando um
preço altíssimo pelo cabo eleitoral
mais eficiente de nossa história.
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