São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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O brilho dos jovens brasileiros

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Foi sua primeira viagem de avião e o primeiro contato com o exterior. Saindo do aeroporto, ele teve de enfrentar cinco graus negativos. Foi uma viagem cheia de emoções, incertezas e choques culturais.
Quem podia imaginar que, ao concorrer com 625 competidores do mundo inteiro, o André Luiz Ramos de Freitas, aluno do Senai de Brasília, viesse a abiscoitar para o Brasil a medalha de ouro na 35ª Olimpíada Internacional de Formação Profissional, realizada em Montreal, de 11 a 17 de novembro?
São fatos como esse que nos fazem acreditar neste país. Numa nação de educação precária e com tantos problemas sociais, é gratificante ver um brasileiro mostrando ao resto do mundo que é o melhor em sua profissão.
Como eletricista predial, André recebeu a tarefa de planejar e instalar, em três dias, toda a rede elétrica de uma residência. Apresentou o melhor desempenho do mundo, tendo superado os concorrentes dos Estados Unidos, Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, enfim, dos 34 países que enviaram candidatos para a bela e tradicional Olimpíada.
Mas não foi só. O Brasil e o Senai brilharam mais ainda. Walter da Silva Diniz, garoto de 19 anos do Senai de São Paulo, conquistou outra medalha de ouro, na profissão de soldagem. Enfrentou testes dificílimos. Despontou em todos. Bateu o mundo inteiro. Foi uma beleza!
O espetáculo dado pelo Brasil não parou aí. A dupla formada por José Folha Mós Neto e Adriano dos Santos Alcaça, também do Senai de São Paulo, abocanhou a medalha de bronze no campo da mecatrônica, tendo superado dezenas de concorrentes dos países avançados -inclusive da Ásia-, que se dizem tão especializados nesse campo. Emocionante!
Fiquei de olho no noticiário. Esperava ver o enaltecimento do valor desses garotos no "Jornal Nacional", nos talk shows de grande audiência, nos jornais de grande circulação e nas revistas de impacto. Estamos no dia 28. Já se passaram 11 dias. Até agora não vi nada. Nem mesmo as autoridades públicas registrarem o grande feito.
O Brasil deu um show planetário. Além das medalhas referidas, cinco jovens receberam o diploma de excelência por terem apresentado um desempenho de 85% nas suas respectivas profissões: Felipe Duarte Andrade (ferramentaria), Daniel Shinji Hirata (mecânica de precisão), Frederico S. Nascimento (CAD) e Isaias Baptista da Silva Júnior (azulejista).
Que bom seria se a imprensa e as autoridades investissem um pouco de seus tempo e recursos para celebrar a parte bela do nosso país -em lugar de se concentrar apenas na divulgação de crimes, violência, corrupção e drogas.
Os garotos do Senai produziram a matéria. Conquistaram os louros mundiais. Agora é a vez de o Brasil reconhecer o seu esforço e usar a sua vida como exemplo de conduta para a juventude, escolas e agências de formação profissional. Parabéns, garotos! Parabéns, Senai!


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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