São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Bandeira rota
PAULO SÉRGIO PINHEIRO
O "Mapa da Violência", preparado pela Unesco e o governo brasileiro, diz-nos que a taxa de morte por homicídios na faixa de 15 a 24 anos em 2000 era de 39%, comparada a 4% para toda a população. Nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, as taxas de homicídio daqueles jovens eram superiores a 50%. No Rio de Janeiro e em Pernambuco, as taxas de homicídio de jovens em 2000 foi superior a 100 por 100.000 habitantes, enquanto a taxa nacional de homicídio é de 25 por 100.000. Chegou o momento, meu irmão Sobel, de despejarmos também nossa fúria contra os responsáveis maiores pela morte desses jovens. Proponho a você alguns: primeiro, a multinacional Taurus-Rossi e a Companhia Brasileira de Cartuchos, que estão mais preocupadas com seus lucros do que com a vida dos brasileiros. Entre 1991 e 2000, as taxas de homicídio com armas de fogo foram, no Rio de Janeiro, de 77,8%, e em São Paulo, de 89,8%. Em todo o Brasil, 82,2% das mortes foram por armas de fogo; em São Paulo, a cada três minutos é apreendida uma arma. O lobby desses mercadores da morte financiou campanhas de parlamentares que criam obstáculos a qualquer projeto de não-comercialização desses instrumentos da morte. Outros parlamentares produzem espasmodicamente legislação penal oportunista, incapaz de ter algum efeito de proteção relevante dos cidadãos. Por isso o sistema criminal brasileiro está submetido a uma choldra de leis penais ineficazes. Agora mesmo volta outro tema roto, a diminuição da idade penal, comprovando a incompetência de adultos e governantes para lidarem com alguns milhares de crianças e jovens infratores, como afirmou na Presidência Fernando Henrique. Tenho certeza de que o presidente Lula garantirá, como fez seu antecessor, o veto para qualquer projeto que proponha rebaixar a idade penal. O Congresso Nacional até hoje foi incapaz de reformar a estrutura judiciária ou o sistema de segurança pública ineficiente, com baixíssima capacidade de investigação de crimes, engendrado pela ditadura militar. Os governantes, 15 anos depois da volta ao regime constitucional, por incompetência ou incúria, não conseguem debelar a corrupção e a banda podre dos aparelhos do Estado (vide Operação Anaconda). Não desmantelam a coluna vertebral do crime organizado, como o jogo do bicho (que financia campanhas eleitorais) ou o narcotráfico, o contrabando, a lavagem de dinheiro. Os orçamentos se multiplicam e o rendimento das políticas de segurança pública continua pífio. Está na hora de, além de bradar com você pelo processo e castigo dos criminosos, enfrentar olho no olho os principais culpados pelo desespero atual e responsabilizá-los pelo sangue dos jovens, pela profunda dor de tantos pais e mães neste triste país assolado pelo medo. Paulo Sérgio Pinheiro, 59, é expert independente das Nações Unidas para a Violência contra a Criança. Foi secretário de Estado de Direitos Humanos (governo Fernando Henrique). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: José Maria Alves da Silva: Inflação e desemprego Índice |
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