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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

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O ANO ECONÔMICO

Para a economia brasileira, 2003 começou sob o signo da apreensão e da incerteza. Agora que o ano chega ao fim, difunde-se a impressão de que o pior já passou -embora ainda não haja maior segurança a respeito do fôlego e da capacidade de sustentação da retomada que começou timidamente a se esboçar nos últimos meses.
O discurso oficial enfatiza, naturalmente, aquilo que caracteriza como conquistas da política econômica. Destaca a forte desaceleração da inflação, o recuo expressivo da cotação do dólar, o elevado superávit comercial, a queda do risco-país para o nível mais baixo em cinco anos e a freada na expansão da dívida pública.
É evidente, no entanto, que o desempenho econômico não foi marcado em 2003 apenas por esses aspectos. A política monetária implementada trouxe graves consequências para o setor produtivo, ao mesmo tempo em que proporcionou ganhos expressivos ao sistema financeiro -justamente o oposto do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizara quando candidato.
Mesmo inevitável, o ajuste assumiu feições marcadamente conservadoras. Esperava-se um crescimento do Produto Interno Bruto ao menos próximo do ritmo pífio dos anos anteriores (da ordem de 1,5%), o que se sabe que não ocorrerá. Os juros nas operações de crédito atingiram valores extremamente elevados, o mercado de trabalho foi duramente castigado e o poder de compra dos trabalhadores sofreu desgaste ainda mais severo do que nos anos anteriores.
Não se deve esquecer que os bons resultados exibidos pelo governo estiveram associados a um cenário externo providencialmente favorável. Superando o trauma das grandes fraudes contábeis de 2002 e os receios quanto aos impactos da Guerra do Iraque, a economia global acelerou seu ritmo de crescimento. O otimismo daí resultante contribuiu para que a aversão ao risco a países emergentes recuasse fortemente. A melhora das contas externas do Brasil viu-se facilitada por esse ambiente -caracterizado ainda por baixos juros nas principais economias e aumento da liquidez internacional.
Com relação às opções de gestão da economia, elas constituíram uma surpresa para boa parte dos analistas. O presidente Lula se elegeu prometendo introduzir mudanças de porte nas diretrizes da política econômica, mas até aqui o que se observou foi essencialmente a continuidade -em certos aspectos, com inclinações mais ortodoxas- das principais linhas seguidas pela equipe da administração anterior.
A despeito disso, o governo continuou a bater retoricamente na tecla das mudanças. No período final do ano apresentou propostas, algumas apenas embrionárias, relativas a políticas industriais, parcerias em projetos de investimento entre os setores público e privado e regulação da área de infra-estrutura. Considerando, porém, o contraste observado entre o discurso de campanha e as ações desde então praticadas, as intenções recém-anunciadas devem ser vistas com cautela. Será preciso esperar 2004 para que se possa ter uma visão mais consistente dos caminhos que o governo -e a economia do país- efetivamente irão seguir.


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