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CLÓVIS ROSSI
O champanhe e o sonho
SÃO PAULO - Depois que o presidente Lula tirou da geladeira o
champanhe para comemorar o
mais baixo índice de risco-país de
todos os tempos, tiremos também o
vinagre. Vinagre, aliás, proveniente
de antigos companheiros de viagem
de Lula, hoje desiludidos, esse pessoal que criou o Fórum Social Mundial e mantém a bendita teimosia
de achar que um "outro mundo é
possível".
O vinagre está contido no relatório 2006 do Observatório da Cidadania. Parte dele é o ICB (Índice de
Capacidades Básicas), que não mede o risco que correm os credores
de não receber o que lhes é devido,
mas o risco que correm as pessoas
de não terem condições de vida minimamente satisfatórias.
Inclui, por exemplo, o percentual
de crianças matriculadas na primeira série que atingem a quinta
série, o percentual de desnutrição
de menores de cinco anos e o de
partos assistidos por pessoal de
saúde qualificado.
Pois bem, o Brasil fica no ICB em
82º lugar entre 162 países, embora
seja um dos 15 países mais ricos do
mundo. Perde até, por incrível que
pareça, para a Cisjordânia/Faixa de
Gaza (67º posto).
Na América Latina/Caribe, estão
à frente do Brasil o Chile (primeiro
colocado latino-americano), Cuba,
Uruguai, Argentina, Costa Rica,
Santa Lúcia, São Vicente/Granadinas e Venezuela.
Sei que esse tipo de classificação
vexatória não é novidade para o
Brasil. Novidade é o fato de que o líder que mais criticava o vexame,
antes de chegar ao poder, agora
olha para o lado e vê o risco-país
muito mais que a dor-país.
Não é à toa que Cândido
Grzybowski, diretor do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais
e Econômicas, a ONG criada pelo
Betinho), ponha o seguinte como
uma das pré-condições para uma
nova agenda brasileira:
"O sonho e a esperança precisam
renascer".
crossi@uol.com.br
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