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Cabide sindical
A ocupação de cargos de confiança por sindicalistas é um problema; a existência de 22 mil funções públicas como essas é outro ainda maior
"Esse negócio de república sindical é bobagem", declarou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, acerca de estudo que aponta para a
forte presença de representantes
do sindicalismo nos cargos de
confiança mais cobiçados do governo federal -com salários que
podem chegar a R$ 22 mil.
Segundo levantamento da cientista política Maria Celina D'Araújo, da PUC-RJ, autora de "A Elite
Dirigente do Governo Lula", quase metade da nata desses postos,
para os quais não se exige a realização de concurso público, é ocupada por sindicalistas.
A "bobagem", como se sabe, começou com a própria chegada ao
poder do ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, que abriu as portas do Estado para acomodar uma
legião de "companheiros". São
inúmeros os exemplos, como
mostrou ontem reportagem publicada pela Folha. Vão do ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros
de Campinas, que passou a gerente de comunicação da Petrobras e
membro do Conselho Deliberativo
do fundo de pensão da empresa,
ao tesoureiro do PT, também integrado ao conselho de administração da Itaipu Binacional.
O domínio "cutista", diga-se,
ampliou-se de maneira notável
nos três principais fundos de pensão do país -Petros (Petrobras),
Previ (Banco do Brasil) e Funcef
(Caixa Econômica).
Nos últimos quatro anos, 66,6%
dos indicados para chefias e conselhos nessas instituições foram
pessoas egressas da estrutura sindical. Já no primeiro mandato de
Lula, aliás, chamou-se a atenção
para o crescente peso exercido por
essa espécie de casta de dirigentes
sindicais encarregados de gerir os
fundos de aposentadoria dos funcionários de empresas estatais.
Ao que tudo indica, a presidente eleita, Dilma Rousseff, sofrerá
pressões das centrais para aumentar ou no mínimo manter a situação -e é plausível que ceda.
Alimentado por contribuições
compulsórias e transformado em
braço oficialista de políticas estatais, o sindicalismo lulista constitui um retrocesso na própria história política do presidente da República. Suas mazelas, como expressão de um nefasto neopeleguismo, são conhecidas.
Todavia não reside nesse fato
-ou apenas nele- o problema da
ocupação de cargos de confiança.
Questionável é a própria quantidade dessas funções, cerca de 22
mil, numa máquina governamental que em tese deveria ser regida
pelos princípios da impessoalidade, moralidade e eficiência.
Trata-se de um descalabro a serviço de interesses fisiológicos de
políticos e apaniguados. Um governo verdadeiramente empenhado em aumentar a eficiência do
Estado deveria promover uma
drástica redução desses cargos.
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