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CARLOS HEITOR CONY
Cara e coragem
RIO DE JANEIRO - O Zé Dirceu está sendo vítima de uma choradeira geral. Ministros, ex-ministros e interessados nisso ou naquilo reclamam que
o chefe da Casa Civil é quem está
realmente mandando. Ora, pois,
qual é a novidade nisso?
Sempre que um presidente não está
preparado para o ofício de governar,
que despreza a papelada burocrática
e os fuxicos da engrenagem política, o
chefe da Casa Civil ocupa o espaço
vazio. Despacha o expediente, faz o
dever de casa. Foi assim com o marechal Dutra, que teve no professor Pereira Lira o seu fac totum, foi assim com Leitão de Abreu, Juvenal Portela
e Golbery, que mandaram e desmandaram no vácuo deixado por presidentes sem apetite, como no caso de
Figueiredo, que gostava mais de seus
cavalos do que do povo.
Quando o presidente se encarna no
poder, como Vargas, JK, Jânio, Collor
e FHC, a figura do seu principal subalterno fica em segundo plano. Tanto Vargas como JK tiveram vários
chefes da Casa Civil, mas nenhum
deles mandava, eram contínuos de
luxo. Jânio e Collor duraram pouco,
mas, enquanto ocuparam a presidência, não transferiram para ninguém a função de governar, para o
bem ou para o mal controlaram a
máquina do poder -até que acabaram no brejo.
Lula adora o poder, mas detesta a
política, sua frio quando tem de nomear alguém e sua mais frio ainda
quando tem de demitir. Ama o poder, mas não se considera poderoso,
prefere os penduricalhos do cargo,
ver os elefantes da Índia e declarar as
obviedades que não cheiram nem fedem.
Dirceu é um animal político. Errando ou acertando, tem um projeto na
cabeça, projeto antigo por sinal, pagou um preço por ele. Não tem o carisma de Lula, porém tem mais substância. O atual governo, no que fez de
bom ou de mau até agora, tem a sua
cara. Falta-lhe ainda a coragem para
realizar o que sempre sonhou.
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