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A MISSÃO DE MANTEGA
Há basicamente duas características que distinguem Guido Mantega, ministro da Fazenda
empossado ontem, de seu antecessor imediato, Antonio Palocci Filho.
Se ambos estão no PT desde a fundação da legenda e cultivam a discrição,
o novo titular é economista de profissão e ao longo de sua carreira acadêmica e política tem se perfilado com
os que criticam a ortodoxia vigente
desde a implantação do Real.
O último traço foi decerto levado
em conta pelos agentes financeiros
que promoveram ontem uma rodada
de venda de ativos brasileiros, levando os principais indicadores do país
a uma piora. Outro elemento que
inoculou nervosismo no mercado foi
a entrevista concedida pela manhã
pelo ministro, em que defendeu corte mais acentuado na taxa de juros.
O episódio provavelmente marcará
o primeiro aprendizado de Mantega
sobre os requisitos de seu novo posto. Dados a situação crítica que precipitou a demissão de Palocci e o pouco tempo remanescente de governo
para qualquer mudança de política
econômica, não resta muito a Mantega senão encaixar-se rapidamente
no figurino de seu antecessor.
É desejo de muitos, inclusive desta
Folha, que o Banco Central corte
mais rapidamente a taxa básica de juros a partir da reunião de abril do Copom. Mas qualquer manifestação
pública do titular da Fazenda sobre a
Selic será entendida como uma pressão indevida contra a autonomia "de
facto" do BC para deliberar sobre o
tema. O resultado tende a ser o oposto do desejado: deterioração dos indicadores financeiros, instando o
Copom a ser mais conservador.
Comprar briga com o BC figura no
topo da lista das atitudes que Mantega não deveria tomar. Uma hipotética demissão de diretores, por exemplo, teria potencial para gerar uma
crise grave. Outro ponto fundamental de uma agenda que pretenda superar logo o estresse inicial com a
substituição na Fazenda é o compromisso com o superávit primário.
A poupança do governo para abater
sua dívida não interessa apenas aos
mercados financeiros, mas ao país;
um esforço fiscal que já dura oito
anos não pode ser posto a perder.
Em ano eleitoral, resistir à gastança
será o maior teste de Guido Mantega.
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