|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VOTAÇÃO EM ISRAEL
Israelenses foram ontem às urnas numa eleição em vários sentidos inédita. Pela primeira vez, o vencedor não saiu das fileiras dos partidos tradicionais -a direita, representada pelo Likud (que sofreu uma
derrota histórica), e a centro-esquerda, dos trabalhistas-, mas de uma
nova agremiação de centro, o Kadima (avante, em hebraico), fundado
pelo ex-premiê Ariel Sharon, em coma após ter sofrido um derrame.
Também pela primeira vez, os israelenses votaram sob o espectro de
um governo palestino formado pelo
Hamas, grupo terrorista cuja razão
de existência é a destruição do Estado de Israel.
Paradoxalmente, esse é também o
pleito com menor participação do
eleitorado na história de Israel. A
aparente contradição se explica.
Também pela primeira vez, parece
haver entre os israelenses um certo
consenso quanto ao caminho a adotar. Assim, votar ou deixar de fazê-lo
não faria tanta diferença. A maioria
do eleitorado parece convencida de
que a única forma de lidar com os palestinos é deixando de lidar com eles.
A principal bandeira do Kadima é o
chamado desengajamento unilateral. A idéia é diminuir ao máximo as
áreas de contato com os palestinos.
Israel se retiraria dos assentamentos
mais afastados da Cisjordânia, ficando com quatro ou cinco colônias
mais populosas. As fronteiras, que
seriam assim definidas unilateralmente por Israel, seriam protegidas
por um muro já em construção.
A diferença entre o Kadima e os outros grandes partidos é basicamente
de grau. O Likud quer o muro sem
entregar os assentamentos. Os trabalhistas dizem preferir definir as
fronteiras no marco de um acordo de
paz com os palestinos, mas provavelmente cerrarão fileiras com o Kadima num governo de coalizão.
O problema dessa "solução" é que,
apesar de possivelmente reduzir as
áreas de atrito entre israelenses e palestinos, ela tende a perenizar o conflito. Para celebrar a paz é preciso que
os dois lados estejam de acordo.
Texto Anterior: Editoriais: TAXA DOS CLUBES Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Ópera-bufa na republiqueta Índice
|