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CARLOS HEITOR CONY
Amada mia
RIO DE JANEIRO - Não estou
atualizado nem me preocupo com
isso. Mas volta e meia leio e ouço
depoimentos nostálgicos de eras
anteriores ao dilúvio e aos dinossauros. Outro dia, tomei conhecimento de repertório brega que serviu de trilha musical para gerações
que, como naquela canção infantil,
deram adeus e foram embora.
Meto minha colher no mingau e
lembro "Amada mia", cantada por
Dick Haymes, mas lançada na versão "Amado mio", por Rita Hayworth, num filme que garantia nunca ter havido mulher como Gilda.
"Amada mia, love me forever" e que
este "forever" comece nesta noite.
Era letal.
O núcleo da breguice era o repertório das churrascarias e dos inferninhos nos subsolos de Copacabana, onde, para desespero de minha
mãe, que me queria padre, iniciei
uma felizmente interrompida carreira de pianista da madrugada. Nas
churrascarias, o "hit" preferencial
era "Babalu", o grito sensual da magia negra; nos inferninhos, não se
resistia a "Perfídia", que Ingrid
Bergman e Humphrey Bogart dançaram naquela cena do cabaré de
Paris -recordamos "As Time Goes
By" e esquecemos que, no final de
tudo, depois de Casablanca, eles só
teriam Paris para sempre.
Havia as estradas vicinais de efeito igualmente fulminante, Pablo
Neruda com sua canção desesperada, tão curto o amor, tão largo o esquecimento, Vinicius de Moraes
com seu soneto da fidelidade, chupado de Henri de Régnier (1864-1936), o amor que seja infinito enquanto dure.
Não conheço os equivalentes
atuais para pintar o clima devastador que encerrava os prolegômenos
e iniciava os finalmentes. Roberto
Carlos parece que ainda funciona
ao longo dos trilhos da Central do
Brasil e da antiga Leopoldina Railway. Não ando por aquelas bandas
-desconfio que esteja perdendo alguma coisa boa.
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