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CARLOS HEITOR CONY
O DNA da violência
RIO DE JANEIRO - Explicando o título: não se trata da violência como expressão de um comportamento esporádico, comum à humanidade em
geral. Falo da violência específica na
qual mergulhou a cidade do Rio de
Janeiro, violência que a voz geral
atribui quase que exclusivamente ao
tráfico.
As duas pernas que movimentam o
chamado crime organizado são as
armas e as drogas.
Quando um arsenal dos bandidos é
descoberto, os entendidos civis e militares admiram-se da sofisticação do
armamento utilizado. Embora continuem usando facas e giletes no varejo, os traficantes dispõem de armas
de última geração -e nenhuma delas é fabricada no Brasil.
Quanto às drogas, com exceção da
maconha, que pode ser cultivada em
vasos no peitoril de qualquer janela,
todas são importadas, embora algumas delas sejam beneficiadas em laboratórios artesanais e clandestinos.
Daí se deve concluir que o único
elemento nacional no tráfico é o homem, o pé-de-chinelo que eventualmente é morto ou preso. Dificilmente
se acredita que esses marginais desdentados, sem fluência em nenhuma
língua, nem mesmo na portuguesa,
tenham estrutura e condições para
manter a rede primária que faz o
contrabando pesado de armas e matérias-primas das drogas. Elas aqui
chegam por falha operacional ou corrupção profissional de dois órgãos: a
Polícia Federal e a Receita Federal.
Os aeroportos e as fronteiras concorrem com alguns laticínios suíços,
que têm mais buracos do que queijo.
E, se a Polícia Federal, responsável
pelo setor, é incapaz de impedir o
contrabando de armas e de drogas, a
Receita Federal, que cata centavos na
renda de todos nós, deixa passar ou é
impotente para descobrir as fortunas
que o tráfico movimenta na mão e na
contramão.
Ao governo federal, é cômodo decretar uma intervenção estadual que
não resolverá o problema enquanto
órgãos federais se mostrarem incapazes de combater o problema pelo
DNA, quer dizer, pela raiz.
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