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CLÓVIS ROSSI
Todos são frágeis
SÃO PAULO - Se é para valer a sua definição para democracia, Condoleezza Rice, a secretária norte-americana de Estado, terá de incluir todos
os países latino-americanos na relação dos "Estados frágeis".
Retornemos à definição, conforme
o relato de Eliane Cantanhêde e
Cláudia Dianni na Folha de anteontem: "Democracia não é só eleição",
começou Rice. Engatou: "Nosso trabalho tem que ser buscar políticas
que dêem à democracia uma chance
não apenas de realizar eleições mas
também de realmente oferecer isso
[educação, saúde e oportunidade para todos] a seu povo".
Como é óbvio, o Brasil não oferece
nem educação, nem saúde, nem
oportunidades para todos. Logo, seria igualmente um "Estado frágil".
Vale o mesmo para qualquer outro
dos países latino-americanos, grandes ou pequenos.
Olhe-se agora um pouco mais para
o norte: na Nicarágua, começa a se
instalar um cenário, digamos, "equatoriano" (ou "boliviano"? Ou "argentino", se a memória recuar para
2001?). Ontem, o presidente Enrique
Bolaños foi agredido com pedras e sacos de água e de lixo. Escapou ileso,
mas seu filho sofreu cortes na cabeça.
Não é exatamente uma situação corriqueira em Estados sólidos.
É evidente que a América Latina
não é uma região homogênea, por
mais que tenha algumas características comuns. Mas supor que Belize e
Brasil, Uruguai e Haiti, por exemplo,
tenham algum parentesco grande é
iludir-se.
Não obstante, todos os países do
subcontinente caem na categoria
"não oferecer oportunidade para todos", uns mais, outros menos, mas
mesmo os "menos" têm um fenomenal déficit social.
Se os Estados Unidos estão mesmo
preocupados com a democracia na
América Latina, deveriam dar atenção a esse déficit, muito mais ameaçador do que os desvarios do presidente Hugo Chávez.
@ - crossi@uol.com.br
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