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Invasão bilionária
Governo banca negócio nas telecomunicações que solapa concorrência, beneficia dois grupos privados e não emprega
AS "OCUPAÇÕES", eufemismo para invasões,
estimuladas pela administração Lula não se
restringem ao setor agrário. Com
financiamento estatal bilionário
e apoio dos fundos de pensão
controlados pelo governismo,
duas companhias telefônicas
acabam de "ocupar" um terreno
irregular. A aquisição da Brasil
Telecom pela Oi dá-se a contrapelo das normas anticoncentração responsáveis pelo sucesso da
privatização da telefonia no país.
Como os contumazes invasores de terra, os artífices das negociações da "supertele verde-amarela" não temem repressão
do Estado. Pelo contrário, estão
certos de que serão, ao fim e ao
cabo, premiados com a assinatura do presidente da República no
decreto que, após o fato consumado, sacramentará o popular
"liberou geral" nas regras para
atuação desses gigantes empresariais em território nacional.
Invadidos em seus direitos podem se sentir os consumidores,
diante do acúmulo de 78% no
mercado de internet por linha
discada e de 59% no por banda
larga na chamada Região 1 (Minas, Rio e outros 16 Estados). Estarão expostos aos efeitos colaterais de uma decisão de gabinete,
submetida à ação exclusiva de
lobbies políticos e empresariais,
que têm propensão genética a
misturar-se na falta de luz.
O que o BNDES afirma tratar-se de uma consolidação de capital estratégica para o "interesse
nacional" beneficia basicamente
duas empresas privadas. O segundo grupo de felizardos, mais
difuso, vai se locupletar com as
gordas comissões, explícitas ou
implícitas, que o negócio vai movimentar. Nenhum tijolo será assentado com os R$ 2,6 bilhões de
dinheiro público oferecido pelo
banco estatal para viabilizar a
aquisição.
Não haverá garantia de criação
de um único posto de trabalho. O
negócio "estratégico" é tão pouco promissor nesse aspecto que
um acordo teve de ser feito para
que não haja demissões nos próximos três anos. O BNDES afirma que não vai colocar dinheiro
do Fundo de Amparo ao Trabalhador, constituído por impostos, no negócio, mas que vai usar
recursos da sua carteira de ações.
Não existiriam meios de movimentar R$ 2,6 bilhões dessa carteira que gerassem mais empregos e investimentos produtivos,
num país com carências gravíssimas na infra-estrutura e que precisa atrair setores industriais de
ponta tecnológica? Mas, na versão de "interesse nacional" do
governo Lula, o cidadão paga na
condição de contribuinte e continua pagando como usuário de
telefonia para que uns poucos se
beneficiem.
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