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CARLOS HEITOR CONY
O frágil lenho
RIO DE JANEIRO - Costumo dizer, sem nenhuma originalidade,
que a era do computador ainda está
na Pré-História. Nossos equipamentos, por mais sofisticados
que sejam, são equivalentes aos dinossauros que habitavam a Terra
antes do Dilúvio. O que vem por aí
não se sabe.
A tecnologia tem disso, o elemento surpresa, que nem sempre é bom
-dependendo do uso que dele se
faz. A indústria nuclear, por exemplo, é um osso atravessado na garganta da humanidade, mais especificamente da ciência. Mesmo nos
avanços mais inocentes, há sempre
um velho do Restelo para amaldiçoar aquele que por primeiro colocou uma vela em frágil lenho -para
citarmos Camões.
A cena é conhecida. A esquadra
de Vasco da Gama preparava-se para zarpar rumo ao desconhecido
quando um velho apareceu no cais,
amaldiçoando a expedição, na qual
tantos morreriam. O velho condenou quem teve a ideia de colocar
uma vela de pano num barco de
frágil lenho.
Pois tudo se resume a isso: alguém cisma de botar um pedaço de
pano num troço feito de madeira e
pronto, a era das navegações estava
começando, com os fenícios, depois
com portugueses, espanhóis, venezianos. E tivemos Marco Polo, Colombo, Américo Vespúcio e o mundo novo.
Qualquer barca que faz o percurso Rio-Niterói, tecnologicamente
dá um banho nos navios mais sofisticados daquela época. A informática é comparada a um tipo de navegação. Navegar na internet é expressão aceita universalmente. E
ainda estamos no estágio da vela de
pano em frágil lenho.
Nossa geração, inclusive as crianças que agora estão nascendo, poderão repetir o espanto de dom Pedro 2º quando experimentou pela
primeira vez o telefone. Assustado,
o imperador pediu que tirassem
"aquele homenzinho" que estava
falando dentro do aparelho.
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