São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2011

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JOSÉ SARNEY

O beato João Paulo 2º

O mundo católico vive a beatificação, no próximo domingo, do papa João Paulo 2º. Em Roma, esperam-se 3 milhões de fiéis.
A cidade tem medo de não aguentar. Desestimula-se a vinda de tantos católicos, com a recomendação de que façam vigílias nas suas cidades como se estivessem na basílica de São Pedro.
Mas é mais fácil viver santo do que ser reconhecido como santo. A popularidade do ex-pontífice e a proximidade do seu papado, em vez de ajudar, prejudicam. A igreja milenar tem suas regras e, tratando com a eternidade, tem medo de mudar.
Para ser santo, o candidato enfrenta uma prova mais do que difícil: a investigação sobre a sua vida pela Congregação para as Causas dos Santos, fundada em 1588 pelo Papa Sisto 5º, composta de 34 membros -cardeais, arcebispos e bispos-, um promotor da fé, cinco relatores e 83 consultores. É chamada, com humor, de "fábrica de santos".
A congregação examina e vasculha a vida do candidato, para saber se ele passa nos quesitos de temperança, prudência, justiça, fortitude, caridade, fé, esperança, humildade, pobreza, castidade e obediência -e também para comprovar sua fama de santidade.
João Paulo 2º passou em tudo com nota 10.
No caso dos papas, as coisas se complicam porque, pela lei canônica, seus papéis só podem ser abertos 70 anos depois de sua morte, e aí pode ser encontrado algum deslize.
Ao papa Karol Wojtyla não se aplicou tal regra, pela transparência de sua vida sem segredos. Mesmo assim, não foi sempre unânime o desejo de canonizá-lo, de que a beatificação é uma etapa.
O cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado de João Paulo 2º, proclamou que era cedo. Mas Bento 16 chamou monsenhor Slawomir Oder, sacerdote polonês, postulador legal, e disse: "Tenha pressa, mas trabalhe bem".
Eu estava em Roma no dia do sepultamento de João Paulo 2º e ouvi os gritos da multidão: "Santo subito" (santo já).
Chefes de Estado do mundo inteiro, delegações de todas as religiões choravam enquanto viam, comovidos, ir para a cripta da basílica de São Pedro o corpo daquele que mudara o século 20 e fizera da Igreja Católica uma fonte de poder, ajudara a derrubar o mundo comunista, promovera o pedido de perdão aos judeus, beijara o Alcorão, mas também tivera que amargar os escândalos do Banco Ambrosiano.
Não era preciso constatar nenhum milagre, pois na vida ele partilhara da cruz, enfrentando todos os sofrimentos, desde o atentado do turco Mehmet Ali Agca até o mal de Parkinson final. Louvaremos a Deus, como católicos, por termos tido a oportunidade de testemunhar o milagre da sua vida e presença, que ajudou a humanidade e a igreja.

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
jose-sarney@uol.com.br


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