São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Nota vermelha

BRASÍLIA - A melhor declaração da semana passada foi a do presidente americano, Barack Obama, para quem a China, a Índia e o Brasil são emergentes até bem bacanas, mas estão muito longe de fazer frente à hegemonia dos Estados Unidos e do Reino Unido. Alguém há de questionar?
Os Brics (excluídas a Rússia, que não se vê como "emergente", e a África do Sul, que acaba de chegar) de fato vêm fazendo bonito na economia, e as projeções indicam que o furacão China deve ultrapassar os EUA até 2020. Mas hegemonias não se fazem apenas com PIB.
O que a China tem na economia não tem na política e está muito longe de ser uma democracia. Já a Índia é craque em tecnologia, especialmente em informática, mas abriga milhões de miseráveis famintos. E o Brasil caminha com a rapidez de uma lebre para ser a quarta maior economia do mundo e com a morosidade de um cágado para se tornar um país moderno.
Nada poderia ilustrar melhor o estágio brasileiro do que a própria semana em que Obama fez a comparação dos Brics com os EUA: o principal ministro atolado em mais um escândalo; os órgãos do governo se esquivando de apurar; a presidente da República tutelada pelo antecessor; o vice-presidente aos gritos com o chefe da Casa Civil; o Código Florestal em chamas; as idas e vindas do kit anti-homofobia para as escolas.
Na área urbana, um assassino confesso, mas poderoso, foi preso depois de 11 anos de recursos e só deve ficar dois na cadeia. No campo, o assassinato de três líderes rurais: José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, no Pará, e Adelino Ramos, em Rondônia.
Ou seja: há crises e falhas graves no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Não é assim que o Brasil vai conseguir um lugar ao sol e um assento no Conselho Permanente da ONU para ensinar ao mundo o que é paz, justiça e dignidade. Primeiro, precisa fazer a lição de casa.

elianec@uol.com.br


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