São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FALSAS SOLUÇÕES

O discurso eleitoral em torno da segurança já produziu suas primeiras vítimas, literalmente. Entre janeiro e maio deste ano, a polícia paulista matou 342 pessoas, o que resulta numa média mensal de 68,4. É a segunda maior marca dos oito anos de gestão do PSDB. Especialistas apontam a exacerbação da retórica anticrime como um dos fatores para o crescimento das baixas entre civis em confrontos com a polícia.
O número paulista é elevadíssimo sob qualquer ângulo que se o analise. Para efeitos de comparação, nos EUA como um todo, registraram-se 297 mortes de civis por policiais ao longo de 2000. Nesse mesmo ano, só a polícia paulista matou 839. Quando se considera que a população dos EUA é quase sete vezes maior do que a de São Paulo, conclui-se que a polícia paulista mata 20 vezes mais do que suas congêneres americanas.
O governo de São Paulo, evidentemente, tem uma outra explicação para esses números. Afirma que são o resultado da eficiente resposta da polícia à crescente sofisticação dos bandidos, que perpetram ações cada vez mais audaciosas e usam armamento cada vez mais pesado. Nesse caso, segundo especialistas, a taxa de policiais mortos deveria ter subido. Não foi o que ocorreu. Ao contrário até, os 13,2 policiais mortos mensalmente em 2002 representam a segunda menor cifra em sete anos.
Em tempos de eleição, políticos tentam dar respostas aos anseios da população. Na atual conjuntura, em que o crime está cada vez mais disseminado, muitos eleitores apostam na tese de que "bandido bom é bandido morto". Policiais percebem os sinais emitidos pela população e reforçados pelos discursos de governantes e candidatos e os interpretam como uma licença para matar. Confundem eficiência com violência.


Texto Anterior: Editoriais: ONDE FALTA ESTADO
Próximo Texto: Editoriais: MARÉ CONSERVADORA

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.