São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Delenda Lula

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, os defensores do governo na mídia e fora dela estão se esbofando para deletar a suspeita que ronda há tempos a vida nacional: a Polícia Federal está a serviço da nação ou do esquema interessado na eleição de Serra?
Antes mesmo de um investidor estrangeiro dizer que fora de Serra não haverá solução, já havia indícios de que os órgãos oficiais, pagos pela nação para servir à nação, estavam na realidade servindo aos interesses eleitorais do governo. O caso do Maranhão, que envolveu a PF, e a mudança na regra do jogo, que envolveu o Poder Judiciário, foram os momentos mais quentes desse conluio.
Afastada a meteórica ameaça de Roseana Sarney, sobrou afinal para o governo a grande pedra no caminho que é a candidatura de Lula. E contra ela está sendo desencadeada uma operação em dois campos distintos.
Para o empresariado, para o capital, para a chamada elite nacional, Lula mais uma vez representa a besta-fera do Apocalipse, o homem que, apesar de prometer respeito às regras do jogo, esconde no fundo do peito a peixeira que assassinará os valores liberais e neoliberais do sistema.
A classe média, que, afinal, é a mais influente na hora do voto, é mais ou menos apática às mumunhas do capital, mas tem por tradição um apego aos valores ditos morais. Comprometer o PT e, se possível, a cúpula do partido, incluindo o próprio Lula, com a corrupção em Santo André faz parte do esquema oficial para tornar a candidatura de Serra a única digerível -tanto pelo capital como pela classe média, assustada com a possibilidade de ter no PT os mesmos escândalos que pareciam exclusivos de outros partidos.
Evidente que o PT não é nem nunca será um coletivo de anjos. Mas a onda agora levantada contra o partido faz parte da mesma operação destinada a eliminar o obstáculo mais sério ao continuísmo do poder.


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