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O IMPACTO DAS TARIFAS
Ao comentar os contratos firmados pelo governo anterior
com concessionárias de serviços públicos, o ministro Guido Mantega,
do Planejamento, lançou mão, como
tem sido frequente na nova gestão,
de uma expressão de uso popular:
"São um grande abacaxi". De fato, a
indexação das tarifas públicas a índices de inflação tem-se revelado perversa para a política econômica e os
consumidores. No caso das empresas de telefonia, o índice de referência para reajustes é o IGP-DI, que registra elevação bastante superior ao
IPCA -o indicador do IBGE utilizado pelo Banco Central no acompanhamento das metas de inflação.
Seja qual for o índice (na verdade, a
tendência, ao longo do tempo, é a de
que todos convirjam), é discutível
que determinados setores da economia possam reajustar preços de forma automática, por força de contratos, independentemente das características da conjuntura econômica.
O que justificaria a indexação é a
necessidade de garantir às concessionárias recursos para investir e
cumprir as metas de expansão, também estabelecidas em contrato. É
certo que o governo precisava, e ainda precisa, assegurar a essas empresas -sejam de telefonia ou energia- condições para continuar ampliando suas atividades.
Na atual situação da economia, porém, quando os índices de aumento
de preços demonstram clara tendência de queda -alguns até deflação-
, introduzir um aumento nas tarifas
telefônicas da ordem de 25% (chegando em alguns casos a 41,7%) é
uma distorção. Impõe aos consumidores, que não têm seus rendimentos indexados, uma forte alteração
em seus orçamentos. O próprio objetivo maior, levar a mais brasileiros a
possibilidade de usar o telefone, acaba comprometido pela dificuldade
que muitos já demonstram de pagar
pelo serviço.
Reajustes indexados a índices de
inflação podem passar quase despercebidos em períodos de estabilidade.
Nas circunstâncias, porém, em que
há alta mais acentuada de preços, as
tarifas indexadas tornam-se um problema. Além de onerar os consumidores de forma desproporcional, dificultam uma queda mais rápida dos
índices de inflação.
Esta Folha chegou a saudar, em
editorial, as negociações entre governo e concessionárias de telefonia
-que pareciam exitosas- com vistas a alterar os critérios de reajuste.
Infelizmente, os aumentos deverão
ocorrer conforme as regras originais, salvo alguma nova decisão ou
acordo entre as partes. Seria desejável que nas revisões contratuais o tema da indexação fosse considerado
não apenas à luz da necessidade de
gerar recursos para investimentos,
mas também tendo em vista a problemática experiência que o país hoje
vive -que justificaria, ao menos, um
alongamento do cronograma de reajustes, como vinha sendo discutido.
É fundamental, também, indagar
se tamanha transferência de renda
para esses setores "protegidos" irá,
de fato, acarretar investimentos que
ampliem e melhorem os serviços
oferecidos.
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