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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Lula, o grande

RIO DE JANEIRO - Perder uma piada ou um amigo? Há gente que prefere isso, perder uma causa para ganhar um aplauso. Lembro aquela história atribuída a Gregório de Matos. Foi abordado por um amigo que teimava em fazer um poema e estava em dificuldade para encontrar uma rima. Gregório quis saber qual a palavra. "Para mim" -informou o importuno. O poeta sugeriu: "Capim".
Perdeu um amigo. Lembro o episódio toda vez que Lula faz uma piada ou quase-piada referindo-se ao fato de não saber inglês, ter um dedo amputado, ter sido torneiro mecânico. Todos aplaudem, mas até quando?
As limitações do presidente são conhecidas desde que foi candidato pela primeira vez, e isso faz tempo. O inglês não lhe fez falta, e o dedo parece que não. O fato de ter tido origem humilde o engrandece, mas outros presidentes não nasceram em berço esplêndido como o Brasil. JK andava descalço até os 12 anos porque a mãe não tinha dinheiro para lhe comprar sapatos. José Sarney só conheceu a lâmpada elétrica aos 14 anos.
Pessoalmente, considero que até aqui Lula está se saindo melhor no plano internacional do que no nacional. Talvez porque seja uma novidade, não é todo dia que um poderoso do Primeiro Mundo é obrigado a recebê-lo de igual para igual, a ouvi-lo com atenção -muitas vezes, coisas que não está habituado a ouvir.
Mas os brasileiros já o conhecem o suficiente, admiram sua biografia e confiam em seus propósitos. Proclamar todos os dias que foi pau-de-arara, trabalhou numa fábrica, perdeu um dedo numa máquina e nunca teve oportunidade de aprender outro idioma, além de serem coisas sabidas e consabidas, nada significam para o que dele esperamos.
E ele deve ser o primeiro a saber por que o povo o elegeu. Carlos Magno foi analfabeto e criou um império. Lula está longe de ser um analfabeto, mas precisa criar o Brasil que todos sonhamos.


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