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Favelas ocupadas
Ação policial no Rio destoa da conivência com o crime que prevalecia;
é preciso atenção para suspeitas de abuso
O ESTADO precisa impor-se diante da criminalidade organizada. Tal
constatação, embora
óbvia, foi deixada de lado ao longo de sucessivas administrações
estaduais no Rio de Janeiro. Como resultado, quadrilhas de traficantes conseguiram não só acumular grande poder de fogo como deitar tentáculos em outros
ramos da criminalidade. A gestão de Sérgio Cabral (PMDB) assumiu com a promessa de romper com essa tradição.
Após anos de descaso das autoridades, o que se materializou
numa espécie de pacto de não-agressão entre policiais e criminosos, os funestos números da
megaoperação de anteontem no
complexo do Alemão se tornam
menos surpreendentes. A ação,
que envolveu 1.200 policiais civis
e militares e 150 da Força Nacional de Segurança, deixou um saldo de 19 mortos e sete feridos.
Quatro pessoas foram detidas.
A troca de tiros entre policiais
e bandidos em algumas áreas das
favelas chegou a durar sete horas. Segundo um balanço parcial,
foram apreendidos 30 kg de cocaína, 115 kg de maconha, 60 bananas de dinamite, cinco fuzis,
cinco pistolas, duas metralhadoras antiaéreas, capazes de derrubar helicópteros, e munição.
Desde que a polícia começou a
operar no complexo do Alemão,
em 2 de maio, já se contabilizam
44 mortes e mais de 70 feridos.
Não há dúvida de que o poder
público tem o dever de desarmar
as quadrilhas e impor a lei. Também se admite que é impossível
fazê-lo sem empregar violência.
Nos quatro primeiros meses de
2007, as chamadas mortes em
confronto já subiram 36,5%, na
comparação com 2006.
Para que a ação da polícia possa ser considerada legítima e tenha êxito, é necessário, contudo,
observar algumas condições. Ela
deve, antes de mais nada, atuar
com a maior contenção possível.
São preocupantes as notícias de
que inocentes teriam sido mortos em meio a pessoas sabidamente ligadas ao tráfico. É preciso apurar essas suspeitas de abuso, bem como liberar todas as informações e laudos a respeito
das pessoas mortas na operação.
Nas 21 favelas do complexo do
Alemão vivem mais de 160 mil
pessoas -a esmagadora maioria
nada tem a ver com o narcotráfico. São, na verdade, as principais
vítimas das "leis" de ódio impostas pelas máfias das drogas.
Também é fundamental que
policiais não aproveitem situações de confronto para promover extermínios. Nesse quesito, o
histórico da polícia fluminense
infelizmente não é dos melhores.
No que concerne ao sucesso da
empreitada, ele só ocorrerá se a
operação não se esgotar em si. É
preciso não apenas que a polícia
permaneça nas favelas como
também que seja secundada por
outros serviços estatais permanentes -iluminação, regularização da posse de imóveis, acesso a
Justiça, educação, saúde, lazer,
capacitação profissional.
Sem isso, para cada traficante
que é morto ou preso haverá três
ou quatro candidatos se digladiando para ocupar a vaga.
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