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CLÓVIS ROSSI
Tiros e tráfico
LISBOA - Reproduzo comentários
do secretário de Segurança do Rio,
José Mariano Beltrame, sobre os
episódios no complexo do Alemão:
"Quebrou-se um pacto de não-agressão silencioso, onde a solução
dos problemas era não agir". O pacto seria: "A sociedade tem que optar
se quer que as pessoas fiquem sem
tiros em determinadas favelas, mas
à mercê do tráfico, ou que o Estado
se imponha e expulse o tráfico".
O ombudsman da Folha, Mário
Magalhães, acrescenta ser "muito
boa" a discussão proposta por Beltrame e sugere levá-la adiante.
De acordo, Mário. Mas há uma
preliminar essencial: não cabe ao
poder público aceitar esse tipo de
pacto, silencioso ou ruidoso. Se há
criminosos em algum lugar da cidade (de qualquer cidade), se a polícia
sabe que eles lá estão, tem que ir ao
local e prendê-los. Ponto.
O que parece estar acontecendo
no Rio de Janeiro há muitos anos
não é um pacto de não-agressão
que impeça a polícia de agir. O Estado é que se demitiu de suas responsabilidades. Por uma ou mais
de uma das seguintes razões:
1 - Impotência para enfrentar
gangues criminosas bem armadas e
cada vez mais dispostas ao combate
aberto.
2 - Conivência de alguns setores
da polícia, a tal "banda podre", de
que muito se falou no governo Anthony Garotinho.
3 - Incompetência para localizar
os criminosos, principalmente os
cabeças.
4 - Medo dos chamados "danos
colaterais", ou seja, fazer vítimas na
população não-combatente.
Os especialistas podem apontar
outras razões, mas não parece razoável acreditar que os moradores
das favelas queiram o tráfico encravado nelas, desde que não haja tiros. Pela simples e boa razão que,
vira e mexe, os próprios traficantes
trocam tiros entre eles.
Logo, não há hipótese de tráfico
sem tiros. Resta saber se há a hipótese de, depois dos tiros, não haver
mais tráfico. Não seria o correto?
crossi@uol.com.br
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