São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Tiros e tráfico

LISBOA - Reproduzo comentários do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, sobre os episódios no complexo do Alemão: "Quebrou-se um pacto de não-agressão silencioso, onde a solução dos problemas era não agir". O pacto seria: "A sociedade tem que optar se quer que as pessoas fiquem sem tiros em determinadas favelas, mas à mercê do tráfico, ou que o Estado se imponha e expulse o tráfico".
O ombudsman da Folha, Mário Magalhães, acrescenta ser "muito boa" a discussão proposta por Beltrame e sugere levá-la adiante.
De acordo, Mário. Mas há uma preliminar essencial: não cabe ao poder público aceitar esse tipo de pacto, silencioso ou ruidoso. Se há criminosos em algum lugar da cidade (de qualquer cidade), se a polícia sabe que eles lá estão, tem que ir ao local e prendê-los. Ponto.
O que parece estar acontecendo no Rio de Janeiro há muitos anos não é um pacto de não-agressão que impeça a polícia de agir. O Estado é que se demitiu de suas responsabilidades. Por uma ou mais de uma das seguintes razões:
1 - Impotência para enfrentar gangues criminosas bem armadas e cada vez mais dispostas ao combate aberto.
2 - Conivência de alguns setores da polícia, a tal "banda podre", de que muito se falou no governo Anthony Garotinho.
3 - Incompetência para localizar os criminosos, principalmente os cabeças.
4 - Medo dos chamados "danos colaterais", ou seja, fazer vítimas na população não-combatente.
Os especialistas podem apontar outras razões, mas não parece razoável acreditar que os moradores das favelas queiram o tráfico encravado nelas, desde que não haja tiros. Pela simples e boa razão que, vira e mexe, os próprios traficantes trocam tiros entre eles.
Logo, não há hipótese de tráfico sem tiros. Resta saber se há a hipótese de, depois dos tiros, não haver mais tráfico. Não seria o correto?


crossi@uol.com.br

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