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NELSON MOTTA
Bola da vez
AMSTERDAM - Ao rasgar a alma,
expor as vísceras e se dizer vítima
de tentativa de assassinato moral, o
senador Renan Calheiros pode até
ser muito inteligente, como diz sua
ex-amada Mônica, mas o estilo é
brega demais.
O veterano senador Gilvan Borges foi direto ao ponto, com autoridade: "Se for investigar todos os senadores a fundo e levá-los ao Conselho de Ética, não sobra um".
Mas não é verdade: sobram todos.
Só os idiotas não perceberam que
os conselhos de ética não foram
criados para punir os parlamentares, mas para protegê-los. Se julgados pela Justiça, mesmo em seus
foros privilegiados, eles estão submetidos às mesmas leis e critérios
que todos os cidadãos. No conselho,
são julgados pelos colegas, entre o
espírito de corpo e o de porco, a solidariedade corporativa e a formação de quadrilha. Não pode mesmo
dar certo, na verdade é feito para
não dar certo. Sabe como é, brasileiro é muito sentimental.
Com Renan e Roriz sob os holofotes -um tentando provar que tinha, e o outro que não tinha dinheiro-, o Senado passou à bola da vez,
e a turma da Câmara está festejando: é um duplo alívio nas atribulações de boa parte de seus membros.
A cada novo escândalo, os envolvidos no anterior comemoram: já
quase nem se fala em Zuleido e na
Operação Navalha. Ninguém se
lembra mais dos nomes dos sanguessugas. A imprensa e o público
estão viciados em escândalos, querem sempre mais, mais fortes. E os
envolvidos também.
Ao se solidarizar com Roriz, Renan estava principalmente agradecendo ao correligionário e colega
pecuarista por ter dividido o fogo da
imprensa com ele. Sabe como é,
uma mão suja a outra.
Roriz, depois de muito chorar, rezar e pedir compaixão a seus pares,
aguarda sereno e confiante o próximo escândalo.
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