São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Do tamanho dos hinos

RIO DE JANEIRO - Quando não tinha assunto para um artigo dos muitos que escrevia para diversos jornais portugueses e brasileiros, Eça de Queiroz esculhambava o bei de Túnis, personagem mais ou menos imaginário ao qual ele atribuía malfeitos e incompetência. Conheci um famoso jornalista da imprensa carioca que, na mesma situação (sem um assunto específico), fazia veementes editoriais exigindo novo hino nacional para o Brasil.
Não é que me falte assunto, mas, se nada tenho contra o bei de Túnis, tenho um terror moderado quando, em eventuais cerimônias que contam com minha desnecessária presença, o programa estabelece o canto do nosso belo hino para início dos trabalhos.
Não que seja um hino feio, pelo contrário, a música é bonita, embora um pouco bombástica, dá impressão de alguma coisa parecida com a queda do Império Romano, anúncio de um cataclisma universal. A letra é discutida, há quem goste e há quem deteste, fico no meio termo, acho que poderia ser melhor ou pior.
Fiquei sabendo nesta semana que o poeta Reynaldo Jardim fez letra para um novo hino, com música moderníssima de J. Antunes. Ouvi e gostei, mas não a ponto de substituir oficialmente o atual, cujo principal defeito é o tamanho, sobretudo quando cantado nas duas partes.
Agora mesmo, por ocasião da visita do príncipe japonês, ouviram-se os dois hinos, um deles curto como o território do Japão, outro imenso como o próprio Brasil. Autoridades estrangeiras, não familiarizadas com as duas partes, sentaram-se ao fim da primeira e tiveram de se levantar, constrangidos, para ouvir o resto.
Em tempo: Puccini usou trechos melódicos do hino japonês como "leitmotiv" de sua "Madama Butterfly", o mesmo fazendo com o também curto hino norte-americano.


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