São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2011

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Desaceleração inconclusa

Diminuição do crédito ajuda no combate à inflação, mas Banco Central precisa estar atento para retomada da alta de preços no futuro próximo

Números do Banco Central divulgados ontem mostram que a concessão de crédito no país voltou a perder velocidade em maio.
A principal fonte da desaceleração continua sendo o crédito às pessoas físicas, foco principal das medidas restritivas adotadas pelo BC desde o fim do ano passado.
Enquanto o volume de liberação de empréstimos aos consumidores crescia ao ritmo anualizado de 30% até dezembro, a velocidade caiu para 8% em maio. O recuo é bastante significativo.
No Brasil, o consumo das famílias representa mais de 60% da formação do PIB (Produto Interno Bruto), a soma de tudo o que o país produz. Até dezembro, a concessão de crédito com regras mais frouxas e juros menores estimulava mais o consumo -e aumentava a pressão sobre a inflação.
A preocupação do BC com o crescimento dos empréstimos pessoais era justificada tanto do ponto de vista inflacionário quanto do endividamento das famílias.
A inadimplência (atrasos acima de 90 dias) cresce há vários meses e passou de 5,7% do total dos empréstimos concedidos no fim do ano passado para 6,4% em maio.
Parte desta piora pode se mostrar temporária, decorrente da perda de renda ocasionada pela inflação -em especial de alimentos- nos primeiros meses do ano, que agora se reverte.
Um aumento mais estrutural dos atrasos ocorreria em um cenário de alta do desemprego, que não parece se avizinhar. Mesmo assim, é preciso cautela, sobretudo após o rápido crescimento do endividamento dos últimos anos.
No geral, os dados do crédito apontam para um menor aumento do consumo à frente. E parecem corroborar o cenário de desaceleração gradual da economia desejado pelo BC, para um crescimento em torno de 4% ao ano.
Com isso, a autoridade monetária espera levar a inflação para perto da meta de 4,5% em 2012.
Outros indicadores, no entanto, em especial no mercado de trabalho, não se mostram conclusivos. O emprego formal continua crescendo ao ritmo de quase 2 milhões de vagas ao ano em um contexto de escassez de mão de obra e salários pressionados.
Além disso, os preços agora em trajetória de queda devem permitir uma recuperação do poder de compra nos próximos meses, o que pode novamente impulsionar o consumo e alimentar a inflação.
Nos próximos meses, o BC terá a difícil tarefa de julgar se a velocidade da economia estará adequada. A trégua atual no campo da inflação é passageira, e novas medidas de restrição ao crédito podem se tornar necessárias.


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