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CLÓVIS ROSSI
Estatizem o Banco Central
SANTANDER - O pedido de demissão de Luiz Augusto Candiota da diretoria do Banco Central deveria servir
para inverter completamente o rumo
da discussão sobre o BC. Não se trata,
ao contrário do que pensa e quer o
ministro Antonio Palocci, de conceder autonomia ao Banco Central,
mas de estatizá-lo.
Pode até ser que Candiota não tenha agido de má-fé no caso em que
está sob investigação do Ministério
Público por suspeita de sonegação fiscal e evasão de divisas. Apenas atuou
de acordo com praxes que são mais
ou menos comuns e disseminadas
nesse mundo das operações financeiras globalizadas.
O problema não é apenas a suspeição, mas a cultura predominante no
BC nos últimos muitos anos. Na medida em que é sistematicamente ocupado por gente que vem do mercados
financeiros, a cultura resultante é
inescapavelmente a do mercado financeiro. Haverá momentos em que
os interesses dos mercados e os do
país até coincidirão (serão raros,
acho eu, mas pode acontecer).
Na maioria das vezes, no entanto, o
mercado olha apenas para os números que lhe interessam, quando uma
instituição pública, como deveria ser
o BC, teria de olhar também para os
números que interessam aos mortais
comuns que não têm recursos ou vocação -ou ambos- para apostar
no cassino financeiro.
Não, não estou querendo dizer que
o BC deva ser uma entidade benemerente que só se preocupe com o Fome
Zero ou outro programa social.
Mas é inaceitável que só se preocupe com o que preocupa o mercado, só
atenda os desejos do mercado, só se
paute pelo mercado, trema de medo
do mercado.
O instinto básico dos ocupantes de
postos-chaves na diretoria do BC tem
sido muito mais pró-mercado do que
pró-sociedade.
PS - Minha viagem à Espanha é a
convite do Grupo Santander. Pelo
menos não posso ser acusado de sonegar essa informação ao leitor. Não
preciso, portanto, ser estatizado.
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