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CARLOS HEITOR CONY
Caboclo Ventania
RIO DE JANEIRO - Minha secretária tirou férias e decidiu passá-las na
Suíça. Sempre ouviu dizer que lá não
há brigas, violência, aqui no Rio já foi
assaltada e agredida no Maracanã,
durante um Fla-Flu em que saiu
pancadaria nas arquibancadas.
Chegou a Genebra num sábado e,
no domingo, foi assistir a um clássico
local, para usufruir as maravilhas de
uma torcida civilizada.
Como sabemos, os jogos de futebol
na Suíça são exemplares, entram em
campo os 22 jogadores, o juiz e os dois
bandeirinhas, só não entra a bola,
que é um pomo de discórdia.
Nem por isso o futebol na Confederação Helvética, nome científico que
dão àquele pacífico país, é diferente
do futebol praticado no resto do
mundo. Lá eles obedecem, com a seriedade secular de que são herdeiros,
todos os preceitos do International
Board, que é, como sabemos, a Carta
Magna que faz o futebol jogado nas
Ilhas Papua obedecer às mesmas regras do futebol jogado em Madureira
e na Tchetchênia.
Tudo igual, menos a bola. Pois é
evidente que a bola provoca discórdia entre os jogadores, juiz, bandeirinhas e respeitável público. Pode-se
cumprir serenamente todas as regras
existentes, a lei do impedimento, a da
vantagem no lance, a da mão na bola, que é diferente da bola na mão,
em não havendo bola, tudo é civilizado e austero, como convém ao povo
que inventou o relógio de cuco.
Acontece que minha secretária tem
como patrono espiritual uma entidade a qual ela invoca em momentos de
desespero. É o Caboclo Ventania, que
a protege e guia, desde criancinha, e a
livra de diversos males.
Creio que, mesmo sem ter sido invocado, esse tal Caboclo Ventania
deslocou-se com ela e não se deu muito bem em terras helvéticas. No jogo
em questão, apesar de não haver bola
em campo, houve um grosso sururu
entre as torcidas. Por pouco ela não
teve de apelar para a solidariedade
da Cruz Vermelha Internacional,
que parece ter sede na Suíça.
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