São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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Estratégia comercial

Agronegócio do Brasil tem pouca opção fora de acordos mundiais; país tem de competir melhor a despeito de negociações

A RODADA Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), foi suspensa pelas dificuldades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento em alcançar um consenso em torno dos principais temas.
Os países ricos condicionam o melhor acesso em produtos agrícolas dos países em desenvolvimento a uma abertura significativa dos seus mercados de produtos industriais e de serviços.
Esse impasse nas negociações multilaterais de comércio deve prejudicar, sobretudo, os países exportadores de commodities agrícolas, notadamente Brasil, Argentina, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.
As dificuldades em avançar nas negociações multilaterais da Rodada Doha são concretas. Ainda assim, para um dos mais experientes negociadores do Brasil, o país "não tem alternativa ao multilateralismo" na área agrícola. As palavras, ditas ao jornal "Valor" nesta semana, são do ex-ministro Rubens Ricupero, que também chefiou a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento.
Agiu corretamente o governo brasileiro ao concentrar seus esforços nas negociações multilaterais, porque o país, na agricultura, possui capacidade de oferta e competitividade abundantes. Em termos de liberalização dos produtos agrícolas, os acordos bilaterais e regionais têm se revelado extremamente limitados.
Segundo Ricupero, "nenhum acordo de livre comércio, nem mesmo o assinado pela Austrália com os EUA, conseguiu fazer nada de apreciável em agricultura". No caso das negociações do Mercosul com a União Européia, por exemplo, procura-se apenas aumentar as cotas de importações, diante da impossibilidade de reduzir os subsídios europeus.
Do ponto de vista estratégico, o Brasil precisa avançar em duas direções complementares. De um lado, não pode perder oportunidade de reavivar as negociações multilaterais em agricultura. A presença no Brasil da chefe dos negociadores comerciais dos EUA, Susan Schwab, é uma dessas oportunidades.
Caso essa porta se feche por anos -como os mais pessimistas prevêem-, então a alternativa do país serão acordos comerciais restritos com os países ricos, onde sempre se poderá obter algum paliativo na agricultura. Tais acordos bilaterais, aliás, merecem ser tocados com agenda própria, pois podem significar ganhos para outros setores importantes da economia brasileira, notadamente os industriais.
A segunda rota estratégica passa por destravar a agenda da competitividade da economia brasileira, independentemente dos acordos comerciais.
Trata-se da necessidade de retomar investimentos em infra-estrutura (portos, estradas, ferrovias, energia elétrica, gás etc.), fomentar inovações técnicas e aperfeiçoar o manejo das variáveis macroeconômicas para melhorar a capacidade de oferta da estrutura produtiva doméstica. Juros exorbitantes e câmbio sobrevalorizado são desfavoráveis à competitividade do país. Para não mencionar a carga tributária brutal, acima de 37% do PIB.


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