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Estratégia comercial
Agronegócio do Brasil tem pouca opção fora de acordos mundiais; país tem de competir melhor a despeito de negociações
A RODADA Doha, no âmbito da Organização
Mundial do Comércio
(OMC), foi suspensa
pelas dificuldades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento em alcançar um consenso
em torno dos principais temas.
Os países ricos condicionam o
melhor acesso em produtos agrícolas dos países em desenvolvimento a uma abertura significativa dos seus mercados de produtos industriais e de serviços.
Esse impasse nas negociações
multilaterais de comércio deve
prejudicar, sobretudo, os países
exportadores de commodities
agrícolas, notadamente Brasil,
Argentina, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.
As dificuldades em avançar nas
negociações multilaterais da Rodada Doha são concretas. Ainda
assim, para um dos mais experientes negociadores do Brasil, o
país "não tem alternativa ao
multilateralismo" na área agrícola. As palavras, ditas ao jornal
"Valor" nesta semana, são do ex-ministro Rubens Ricupero, que
também chefiou a Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento.
Agiu corretamente o governo
brasileiro ao concentrar seus esforços nas negociações multilaterais, porque o país, na agricultura, possui capacidade de oferta
e competitividade abundantes.
Em termos de liberalização dos
produtos agrícolas, os acordos
bilaterais e regionais têm se revelado extremamente limitados.
Segundo Ricupero, "nenhum
acordo de livre comércio, nem
mesmo o assinado pela Austrália
com os EUA, conseguiu fazer nada de apreciável em agricultura".
No caso das negociações do Mercosul com a União Européia, por
exemplo, procura-se apenas aumentar as cotas de importações,
diante da impossibilidade de reduzir os subsídios europeus.
Do ponto de vista estratégico, o
Brasil precisa avançar em duas
direções complementares. De
um lado, não pode perder oportunidade de reavivar as negociações multilaterais em agricultura. A presença no Brasil da chefe
dos negociadores comerciais dos
EUA, Susan Schwab, é uma dessas oportunidades.
Caso essa porta se feche por
anos -como os mais pessimistas
prevêem-, então a alternativa
do país serão acordos comerciais
restritos com os países ricos, onde sempre se poderá obter algum
paliativo na agricultura. Tais
acordos bilaterais, aliás, merecem ser tocados com agenda própria, pois podem significar ganhos para outros setores importantes da economia brasileira,
notadamente os industriais.
A segunda rota estratégica passa por destravar a agenda da
competitividade da economia
brasileira, independentemente
dos acordos comerciais.
Trata-se da necessidade de retomar investimentos em infra-estrutura (portos, estradas, ferrovias, energia elétrica, gás etc.),
fomentar inovações técnicas e
aperfeiçoar o manejo das variáveis macroeconômicas para melhorar a capacidade de oferta da
estrutura produtiva doméstica.
Juros exorbitantes e câmbio sobrevalorizado são desfavoráveis
à competitividade do país. Para
não mencionar a carga tributária
brutal, acima de 37% do PIB.
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