São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Dor de crescimento

Vigor econômico já pressiona infra-estrutura além dos aeroportos; abertura geral ao capital privado é saída óbvia

O BRASIL vive sintomas de uma dor, a dor do crescimento, que não se manifestava havia uma geração. Se for confirmada a variação do PIB neste ano em torno de 4,5%, a economia terá crescido, de 2004 a 2007, a um ritmo anual superior a 4%.
Dois fatores têm potencial de frustrar a continuidade desse ciclo. O primeiro seria uma desaceleração acentuada na economia global, que passa pelo mais longo período de expansão forte desde o início dos anos 1970. Sobre esse risco o Brasil tem pouco controle. Deve precaver-se, minimizando as conseqüências de uma crise global, se ela vier. Essa tarefa tem sido cumprida pelo acúmulo de reservas internacionais em moeda forte.
O segundo risco é aquele que já se manifestou na crise aeroportuária. Por insuficiência de infra-estrutura, os agentes privados seriam obrigados a reduzir seus gastos e seus investimentos. O movimento de passageiros nos dois principais aeroportos de São Paulo, que vinha crescendo ao ritmo anual de 16% nos últimos três anos, já reduziu sua expansão para 3%, considerado o período de janeiro a maio.
Decerto essa modalidade não-declarada de racionamento na oferta de serviços aéreos terá pouca repercussão estatística no cálculo do PIB -embora já haja notícias de perda de investimentos de empresas multinacionais no Brasil por conta do estrangulamento aeroportuário. Mas a aviação apenas manifesta abertamente os sintomas de um fenômeno multifacetado.
O consumo de energia elétrica em maio último foi 8,2% superior ao do mesmo mês de 2006. Nos cinco primeiros meses de 2007, cidadãos e empresas brasileiras demandaram 5,2% mais eletricidade do que no período homólogo do ano passado.
Também entre janeiro e maio de 2007, o volume de mercadorias movimentadas no porto de Santos aumentou 11,6%, sobre o ano anterior. Nos portos administrados pela Companhia Docas do Rio de Janeiro, o fluxo de carga na primeira metade deste ano foi 23% maior do que o nível registrado em 2006. O tráfego nas rodovias concedidas ao setor privado em junho ficou 5,3% acima do verificado em junho de 2006.
Esses sinais de vigor econômico não encontram da parte do governo federal um tratamento sistemático, capaz de transmitir tranqüilidade sobre a manutenção do crescimento. O PAC é resposta insuficiente -em escala- e morosa, baseada num modelo de ação estatal ultrapassado.
Enquanto o governo faz esforços e esfola o contribuinte para assegurar dispêndios extras de R$ 11 bilhões na infra-estrutura neste ano, um montante de escala várias vezes superior -de dinheiro novo ou desmobilizado de aplicações no Brasil (como a dívida pública) e no mundo- está em busca de investimentos mais rentáveis. Uma abertura geral do setor de infra-estrutura ao capital privado seria uma saída óbvia para conciliar o interesse desses agentes aos do país.
Mas, para tanto, o presidente Lula teria de estar disposto a desalojar os apaniguados que infestam de atraso milhares de cargos relacionados a portos, aeroportos, entrepostos e rodovias.


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