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Dor de crescimento
Vigor econômico já pressiona infra-estrutura além dos aeroportos; abertura geral ao capital privado é saída óbvia
O BRASIL vive sintomas
de uma dor, a dor do
crescimento, que não
se manifestava havia
uma geração. Se for confirmada a
variação do PIB neste ano em
torno de 4,5%, a economia terá
crescido, de 2004 a 2007, a um
ritmo anual superior a 4%.
Dois fatores têm potencial de
frustrar a continuidade desse ciclo. O primeiro seria uma desaceleração acentuada na economia global, que passa pelo mais
longo período de expansão forte
desde o início dos anos 1970. Sobre esse risco o Brasil tem pouco
controle. Deve precaver-se, minimizando as conseqüências de
uma crise global, se ela vier. Essa
tarefa tem sido cumprida pelo
acúmulo de reservas internacionais em moeda forte.
O segundo risco é aquele que já
se manifestou na crise aeroportuária. Por insuficiência de infra-estrutura, os agentes privados
seriam obrigados a reduzir seus
gastos e seus investimentos. O
movimento de passageiros nos
dois principais aeroportos de
São Paulo, que vinha crescendo
ao ritmo anual de 16% nos últimos três anos, já reduziu sua expansão para 3%, considerado o
período de janeiro a maio.
Decerto essa modalidade não-declarada de racionamento na
oferta de serviços aéreos terá
pouca repercussão estatística no
cálculo do PIB -embora já haja
notícias de perda de investimentos de empresas multinacionais
no Brasil por conta do estrangulamento aeroportuário. Mas a
aviação apenas manifesta abertamente os sintomas de um fenômeno multifacetado.
O consumo de energia elétrica
em maio último foi 8,2% superior ao do mesmo mês de 2006.
Nos cinco primeiros meses de
2007, cidadãos e empresas brasileiras demandaram 5,2% mais
eletricidade do que no período
homólogo do ano passado.
Também entre janeiro e maio
de 2007, o volume de mercadorias movimentadas no porto de
Santos aumentou 11,6%, sobre o
ano anterior. Nos portos administrados pela Companhia Docas
do Rio de Janeiro, o fluxo de carga na primeira metade deste ano
foi 23% maior do que o nível registrado em 2006. O tráfego nas
rodovias concedidas ao setor privado em junho ficou 5,3% acima
do verificado em junho de 2006.
Esses sinais de vigor econômico não encontram da parte do
governo federal um tratamento
sistemático, capaz de transmitir
tranqüilidade sobre a manutenção do crescimento. O PAC é resposta insuficiente -em escala-
e morosa, baseada num modelo
de ação estatal ultrapassado.
Enquanto o governo faz esforços e esfola o contribuinte para
assegurar dispêndios extras de
R$ 11 bilhões na infra-estrutura
neste ano, um montante de escala várias vezes superior -de dinheiro novo ou desmobilizado
de aplicações no Brasil (como a
dívida pública) e no mundo- está em busca de investimentos
mais rentáveis. Uma abertura
geral do setor de infra-estrutura
ao capital privado seria uma saída óbvia para conciliar o interesse desses agentes aos do país.
Mas, para tanto, o presidente
Lula teria de estar disposto a desalojar os apaniguados que infestam de atraso milhares de cargos
relacionados a portos, aeroportos, entrepostos e rodovias.
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