São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O sonho e a casa própria

SÃO PAULO - Tomando uma certa licença poética (ou, mais exatamente, uma licença estatística), dá para dizer que há um fosso entre o sentimento dos 200 mil jovens que foram ao comício de Barack Obama em Berlim e os jovens brasileiros que aparecem na pesquisa publicada domingo por esta Folha.
Afinal, a garotada alemã não pode querer de um presidente norte-americano casa própria e bons salários, exatamente os itens mais valorizados pela gurizada entrevistada pelo Datafolha.
Repito que se trata de uma licença estatística pelo óbvio fato de que, no comício, não estava presente a esmagadora maioria dos jovens alemães, o que pode significar que todos os ausentes também querem casa, comida e roupa lavada.
Da mesma forma, é possível que 200 mil brasileiros fossem ao encontro de Obama na improvável hipótese de que ele apareça por aqui ainda como candidato (depois de eleito, se o for, a segurança desanimaria muita gente).
Mesmo assim, vale a comparação apenas para enfatizar o fato de que uma fatia importante da juventude busca alguma coisa que não me parece muito clara. Barack Obama resume essa busca em "change", mudança, o que é mais vago do que promessa de candidato a vereador nas eleições municipais de outubro.
Vago ou não, o cantochão da "mudança", do "yes, we can" (o que podemos, cara pálida?), parece atrair uma moçada cansada dos políticos cinzentos que marcam o cenário europeu principalmente. Entre sair de casa para ver Obama ou ver Angela Merkel, a escolha parece fácil, por brilhante que seja a gestão da chanceler alemã.
Não parece ser casa e emprego o foco dos que se mobilizam por Obama. É mais o intangível, o sonho.
Acho difícil que presidentes, mesmo nos Estados Unidos, tenham margem de manobra para entregar o sonho. Mas sonhar sempre é melhor do que conformar-se.

crossi@uol.com.br


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