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ANTONIO DELFIM NETTO
Os puristas e o Brasil
A LEITURA de alguns textos
sugere que seus autores não
têm interlocutores: têm inimigos! Consideram-se portadores
de uma "ciência" e creem que os
que qualificam suas conclusões, ou
são ignorantes ou escondem objetivos não declarados e, na pior hipótese, têm má-fé.
Em estado de transe numa certa
academia (num país que sempre a
praticou), ouviram, em inglês, que
"a política industrial é uma mistificação inventada por uma tribo que
vive abaixo do Equador, a serviço
de industriais ineficientes que,
com a cumplicidade do governo
(cuja eleição eles financiam), exploram os consumidores".
É por isso que ao ouvir a expressão "política industrial" entram em
pânico e reagem com virulência. O
problema é que tal "ciência" ignora
a história e a geografia e não pode
sugerir uma política econômica,
onde elas (e as urnas) não podem
ser ignoradas...
É verdade que a nossa política de
substituição de importações, às vezes, foi levada longe demais, mas é
impossível esconder o fato que entre 1947 e 1980 a economia brasileira cresceu a uma taxa média real
superior a 7%; que o PIB dobrou a
cada dez anos e cresceu cinco vezes
em uma geração! É claro que cresceu usando mais mão-de-obra e
mais capital e com menor contribuição do fator residual chamado
"produtividade", mas é claro, também, que esta melhorou, pois o PIB
per capita aumentou quase 4% ao
ano! A desigualdade cresceu, mas
todos cresceram.
É tolice, entretanto, desqualificar toda política industrial por causa dos eventuais exageros da substituição de importações. Como toda política econômica, ela deve ser
julgada usando "testemunhas", isto é, os seus parceiros regionais (a
geografia) que sofreram as mesmas
contingências (história). E quando
se usa tal avaliação parece que a
economia brasileira não se saiu tão
mal. Passou por crises, mas cresceu
mais depressa e construiu uma estrutura industrial mais sofisticada
do que suas companheiras latino-americanas.
Enquanto nossos "puristas" se
arrepiavam ao ouvir falar em "política industrial" ou "substituição de
importações", Canadá e Alemanha
(exemplos de livre comércio) disputavam ferozmente a instalação
de indústrias do setor de semicondutores. O Canadá, por exemplo,
continua a ter instrumentos para
construir subsídios, com a colaboração entre uma unidade federada,
o Quebec, e o Programa de Associação Tecnológica do Canadá (federal). É claro que há espaço no Brasil
para a construção de um ecossistema econômico apoiado numa inteligente política industrial, mesmo
porque até hoje não temos uma indústria de semicondutores...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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