São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES


Brasil e Espanha: uma relação de futuro

MIGUEL ÁNGEL MORATINOS


Contamos com a colaboração deste país, com o qual compartilhamos o caminho da transformação e do futuro


A DECLARAÇÃO de Brasília consolida a associação estratégica hispano-brasileira e marca uma nova etapa das nossas relações, que destaca a convergência entre nosso país e esta potência emergente, à qual estamos ligados pela história e pela caudal crescente de transferências numa grande variedade de áreas.
Desde 2005, Brasil e Espanha convergem no terreno em que se aproximam Norte e Sul. Temos construído uma relação sólida e de futuro, na qual defendemos conjuntamente princípios e valores na comunidade internacional e ibero-americana e fazemos uma frente comum para enfrentar os desafios do século 21.
Em ambos os países temos consolidado a democracia e modernizado a economia. Temos nos esforçado para acabar com as diferenças sociais e para nos abrir decididamente ao mundo. Como traços da identidade política, compartilhamos o respeito e a defesa dos direitos humanos, o multilateralismo efetivo, a legalidade internacional, as novas formas de governança global e a cooperação ao desenvolvimento sustentável.
Nesse caminho, as agendas do Norte e do Sul coincidem, como ficou patente na cúpula do G8, em Áquila (Itália), onde os presidentes Lula e Rodríguez Zapatero promoveram a segurança alimentar: serão destinados US$ 20 bilhões para esse fim, e Espanha contribuirá com US$ 1,5 bilhão.
A sintonia entre ambos os presidentes, a confluência dos critérios e a cumplicidade política são reconhecidas na aliança contra a fome, na ajuda alimentar aos países da América Central danificados pelos furacões Ike e Gustav em 2008 ou na intervenção conjunta na resolução de tensões políticas e econômicas na região.
Trabalhamos para superar a crise econômica e financeira internacional e para que aflore uma nova ordem, com instituições mais sólidas, transparentes e legitimadas, que regulem os fluxos financeiros e evitem o colapso do sistema internacional, ao mesmo tempo em que destinamos políticas e recursos sociais para amortecer seus efeitos.
Algumas das medidas adotadas na nova ordem financeira se inspiram nas regulamentações e nos procedimentos bancários que estão há anos em vigor no Brasil e na Espanha.
O Brasil tem uma matriz energética variada e limpa e é um dos grandes produtores mundiais de etanol de cana, ao mesmo tempo em que combate o desmatamento. A Espanha, por sua vez, se empenha na geração de energia eólica e de outras fontes renováveis, área em que somos referência.
A vontade política de ambos os Estados de eliminar os gases de efeito estufa e alcançar um novo modelo econômico produtivo sustentável nos une também no futuro. Ocorre a mesma coisa com a capacidade nuclear, pois entendemos que ela deve se destinar somente a fins pacíficos e defendemos a não proliferação das armas nucleares.
Ambos cooperamos no combate ao tráfico ilícito de pessoas e entorpecentes, assim como às redes de crimes organizados. Mantemos estreita colaboração em matéria policial e judicial e estamos comprometidos com a erradicação do terrorismo e o apoio a suas vitimas. Além disso, fomentamos o entendimento entre as culturas e a convivência intercultural por meio da Aliança de Civilizações, cujo terceiro foro será realizado no Rio de Janeiro, em maio do próximo ano.
A nossa vocação ibero-americana também une a Espanha ao Brasil. Este país é a grande peça do mosaico sul-americano e há anos atua como um catalisador democrático, um estabilizador político, um comerciante e investidor nessa imensa região. Ademais, esforça-se para contribuir com a consolidação da sua institucionalização e a de toda a América Latina.
A Espanha se identifica plenamente com o Brasil no objetivo de colaborar para que a América Latina seja mais democrática, mais solidária e próspera. Nesse sentido, trabalhamos juntos no seio da comunidade ibero-americana de nações, que tem uma destacada identidade no panorama internacional. Brasil e Portugal contribuem com o componente lusófono dessa comunidade e nos aproximam dos países irmãos da África e da Ásia.
Nosso país tem apostado no Brasil já há 20 anos, e nossos presidentes decidiram aprofundar essa relação bilateral assinando o convênio de associação estratégica há quatro anos.
Nossas empresas foram pioneiras no processo de modernização da economia brasileira na última década do século 20, o que nos transformou no seu segundo investidor e em um agente notável de transferência tecnológica e de modernização.
A riqueza e a complexidade das nossas relações vêm se estendendo cada vez mais aos âmbitos cultural e educativo.
No próximo 1º/1/2010, a Espanha assumirá a presidência rotativa da União Europeia e, por vocação, priorizará uma aproximação maior da América Latina e do Caribe com a Europa. Esse, ao lado das áreas da nossa cooperação mútua, será um dos eixos da próxima reunião bilateral Espanha-Brasil.
Para isso, contamos com a colaboração deste grande país. Um país fundamental na relação birregional e com o qual compartilhamos o caminho da transformação e do futuro.


MIGUEL ÁNGEL MORATINOS , ministro de Assuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha.



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