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Pesquisa Datafolha mostra que para eleitor brasileiro a internet tem papel modesto na busca por informações, atrás da TV e dos jornais
Falou-se muito sobre o papel relevante da internet na eleição do
presidente norte-americano, Barack Obama, fenômeno que poderia se repetir no pleito brasileiro. A
rede mundial de computadores
ganha cada vez mais adeptos no
país, que é o quinto do mundo em
número de conexões. Embora
pouco precisas, as estatísticas indicam que cerca de 67 milhões de
pessoas com mais de 16 anos têm
acesso ao mundo on-line.
A mais recente pesquisa de intenção de voto do Datafolha mostrou no entanto que o eleitorado
reserva um lugar modesto para a
internet na busca por informações
sobre a disputa. A TV (65%) e os
jornais (12%) são os meios mais citados. A rede e o rádio vêm em terceiro, com 7% cada um.
Quando o Datafolha solicita aos
entrevistados que enumerem três
meios de comunicação que usam
para se informar sobre o pleito,
27% mencionam a internet -atrás
de conversas com amigos e familiares (citadas por 32%). Já a TV é
mencionada por 88%, seguida
dos jornais (54%) e do rádio (52%).
A TV tem mais força entre habitantes da região Nordeste e setores
de renda mais baixa, diferentemente dos jornais, que se destacam nos segmentos com mais poder aquisitivo. Os mais ricos também são mais ligados à internet,
assim como os mais escolarizados
e mais jovens.
As comparações com os Estados Unidos devem levar em conta
não apenas o fato de que lá parcela mais ampla da população está
ligada à rede. Há outros fatores a
considerar, a começar pelo sistema eleitoral dos dois países.
Não existe horário eleitoral gratuito na TV norte-americana, algo
que, no Brasil, faz desse veículo
uma referência praticamente incontornável para os eleitores. O
"comício eletrônico" invade os lares do país, em meio à programação diária das emissoras, nas faixas com audiência mais elevada.
Além disso, nos EUA, comparecer às urnas não é obrigatório e a
maioria dos que votam tem registro em um dos principais partidos.
Com o voto facultativo, a mobilização do eleitor pode ser decisiva
para o resultado. É fundamental
para partidos e candidatos convencer o cidadão a sair de casa para fazer sua escolha. Nessa tarefa,
a internet revelou-se um instrumento valioso.
Um outro aspecto diz respeito
às contribuições individuais para
campanhas, que nos EUA se beneficiam da rede de computadores,
enquanto aqui mal engatinham.
Um estudo sobre as relações entre eleições (no caso, as de 2006 e
2008) e internet, realizado pelos
professores Vladimir Safatle e
Marcelo Coutinho, da USP e da
Fundação Getulio Vargas, verificou que o espaço virtual no Brasil
é mais usado para alimentar sectarismos do que para buscar e trocar informações.
Como não é difícil constatar, internautas atuam em blogs e redes
sociais para reforçar opiniões já
formadas, oferecer material de
campanha a militantes e tentar influenciar os veículos tradicionais.
Esse tipo de atuação contribui para reforçar mais um problema: a
facilidade com que, no mundo on-line, circulam boatos, notícias forjadas e opiniões comprometidas.
Não se trata de subestimar o potencial da internet na conquista
do eleitor, que deve aumentar no
Brasil. Mas fenômenos eleitorais
como o de Obama não se reproduzem com base em receitas.
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