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LUIZ FERNANDO VIANNA
Tarde demais
RIO DE JANEIRO - Diz o ditado que
a Justiça tarda, mas não falha. Em
muitas ocasiões ela falha porque
tarda.
Uma menina de cinco anos está
em coma profundo no Rio. Em entrevista à Folha, a juíza responsável pelo caso disse estar com a
"consciência tranquila".
Os pais se davam muito mal, psicólogos apontaram síndrome de
alienação parental -quando a mãe
diz horrores à criança sobre o pai ou
vice-versa- e a juíza determinou
que a menina passasse 90 dias sem
ver a mãe.
Antes de esse período acabar, foi
internada com marcas no corpo.
Não há nenhuma prova de que o
pai tenha cometido maus-tratos. E
o médico que a acompanha a criança já relativizou essa possibilidade.
Qualquer prejulgamento deve ser
evitado.
A questão é: por que afastar mãe
e filha por três meses? De onde a
juíza tirou a ideia de que um intensivão de contato iria curar a menina
da alienação parental? A medida
pode ter embasamento legal, mas
foi dura demais.
Assim como, por não se encaixar
no cânone da Lei Maria da Penha,
teve embasamento a decisão da juíza fluminense que negou, no ano
passado, proteção para Eliza Samudio diante das ameaças do goleiro
Bruno.
Talvez, como disse a magistrada
à Folha, Eliza tivesse desaparecido
da mesma forma. Dificilmente saberemos, pois a Justiça não fez o
que estava a seu alcance.
O caso do menino Sean não foi,
felizmente, irreversível. Ao impedir
o cumprimento da Convenção de
Haia e a volta da criança aos Estados Unidos no momento certo, a
Justiça do Rio fez rolar uma bola de
neve que teve como principal vítima o próprio Sean.
Agora, é o pai que não deixa a família materna ver o menino, e a bola continua rolando.
Como ainda se consegue ter a
consciência tranquila?
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