São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2010

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Tarde demais

RIO DE JANEIRO - Diz o ditado que a Justiça tarda, mas não falha. Em muitas ocasiões ela falha porque tarda.
Uma menina de cinco anos está em coma profundo no Rio. Em entrevista à Folha, a juíza responsável pelo caso disse estar com a "consciência tranquila".
Os pais se davam muito mal, psicólogos apontaram síndrome de alienação parental -quando a mãe diz horrores à criança sobre o pai ou vice-versa- e a juíza determinou que a menina passasse 90 dias sem ver a mãe.
Antes de esse período acabar, foi internada com marcas no corpo. Não há nenhuma prova de que o pai tenha cometido maus-tratos. E o médico que a acompanha a criança já relativizou essa possibilidade. Qualquer prejulgamento deve ser evitado.
A questão é: por que afastar mãe e filha por três meses? De onde a juíza tirou a ideia de que um intensivão de contato iria curar a menina da alienação parental? A medida pode ter embasamento legal, mas foi dura demais.
Assim como, por não se encaixar no cânone da Lei Maria da Penha, teve embasamento a decisão da juíza fluminense que negou, no ano passado, proteção para Eliza Samudio diante das ameaças do goleiro Bruno.
Talvez, como disse a magistrada à Folha, Eliza tivesse desaparecido da mesma forma. Dificilmente saberemos, pois a Justiça não fez o que estava a seu alcance.
O caso do menino Sean não foi, felizmente, irreversível. Ao impedir o cumprimento da Convenção de Haia e a volta da criança aos Estados Unidos no momento certo, a Justiça do Rio fez rolar uma bola de neve que teve como principal vítima o próprio Sean.
Agora, é o pai que não deixa a família materna ver o menino, e a bola continua rolando.
Como ainda se consegue ter a consciência tranquila?


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