São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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CLÓVIS ROSSI

A Receita e a caixa-preta

SÃO PAULO - Na quinta-feira, esta Folha anunciava que as autuações sobre grandes empresas dobraram em São Paulo, no primeiro semestre deste ano, na comparação com idêntico período de 2008. Houve um aumento de R$ 3,1 bilhões para R$ 7,4 bilhões nas autuações -ou 147% mais.
Ponto, portanto, para Lina Vieira, a secretária da Receita no primeiro semestre de 2009.
No dia seguinte, a Folha informava que a fiscalização das grandes empresas no período Lina Vieira caiu 28%, se medida pelo valor das autuações. Ponto contra Lina.
Na verdade, os números vazados pela Receita fazem parte da guerra de grupos que se instalou no fisco.
Como em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade. Afinal, se caiu o volume de autuações, não caiu o número de empresas fiscalizadas. Ao contrário, aumentou (de 1.058 para 1.194).
Os interessados em divulgar os dados que supostamente provam uma coisa ou o seu contrário esqueceram-se de decodificar os números crus.
No caso do aumento das autuações em São Paulo, pode simplesmente ter ocorrido que, ante a queda de faturamento por conta da crise, empresas deixaram de pagar impostos para ficar com caixa para outras despesas eventualmente mais urgentes.
No caso da redução das autuações no conjunto do país, acompanhada de aumento de empresas fiscalizadas, pode eventualmente ter acontecido de os fiscais encontrarem menos irregularidades.
São apenas hipóteses, claro, ante a ausência de dados que permitam uma interpretação correta dos números frios.
O que, de resto, só mostra que o Estado brasileiro (não só a Receita) é uma gigantesca caixa-preta, que, mesmo quando encontrada no fundo de uma guerra, emite sinais contraditórios conforme o grupo que a traduz. É trágico.

crossi@uol.com.br

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