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CLÓVIS ROSSI
A Receita e a caixa-preta
SÃO PAULO - Na quinta-feira, esta
Folha anunciava que as autuações
sobre grandes empresas dobraram
em São Paulo, no primeiro semestre deste ano, na comparação com
idêntico período de 2008. Houve
um aumento de R$ 3,1 bilhões para
R$ 7,4 bilhões nas autuações -ou
147% mais.
Ponto, portanto, para Lina Vieira, a secretária da Receita no primeiro semestre de 2009.
No dia seguinte, a Folha informava que a fiscalização das grandes
empresas no período Lina Vieira
caiu 28%, se medida pelo valor das
autuações. Ponto contra Lina.
Na verdade, os números vazados
pela Receita fazem parte da guerra
de grupos que se instalou no fisco.
Como em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade. Afinal, se
caiu o volume de autuações, não
caiu o número de empresas fiscalizadas. Ao contrário, aumentou (de
1.058 para 1.194).
Os interessados em divulgar os
dados que supostamente provam
uma coisa ou o seu contrário esqueceram-se de decodificar os números crus.
No caso do aumento das autuações em São Paulo, pode simplesmente ter ocorrido que, ante a queda de faturamento por conta da crise, empresas deixaram de pagar impostos para ficar com caixa para
outras despesas eventualmente
mais urgentes.
No caso da redução das autuações no conjunto do país, acompanhada de aumento de empresas fiscalizadas, pode eventualmente ter
acontecido de os fiscais encontrarem menos irregularidades.
São apenas hipóteses, claro, ante
a ausência de dados que permitam
uma interpretação correta dos números frios.
O que, de resto, só mostra que o
Estado brasileiro (não só a Receita)
é uma gigantesca caixa-preta, que,
mesmo quando encontrada no fundo de uma guerra, emite sinais contraditórios conforme o grupo que a
traduz. É trágico.
crossi@uol.com.br
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