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FERNANDO RODRIGUES
A cidadania pós-caseiro
BRASÍLIA - Levantar o braço e
apontar algo de errado é um dever
do cidadão. O caseiro Francenildo
Costa tomou esse rumo. Relatou
em 2006 as idas e vindas do então
ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a uma mansão na qual lobistas se refestelavam em Brasília.
A partir daí, deu tudo errado para
Francenildo. Foi perseguido pelo
Estado brasileiro. Teve seu sigilo
bancário quebrado. Três anos se
passaram. A ação movida por ele
contra a Caixa Econômica Federal
continua sem solução. Ao mesmo
tempo, Palocci já está livre, leve e
solto, absolvido pela Justiça.
Esse episódio concluído pelo Supremo Tribunal Federal anteontem tem vários ângulos. O mais saliente do ponto de vista político
eleitoral é Lula ter reabilitado um
de seus quadros de elite. O outro aspecto é o conservadorismo do STF
ao não enxergar indícios suficientes
para processar Palocci.
Mas o efeito mais relevante da
decisão do STF é desestimular cidadãos interessados em participar da
vida pública. Tome-se o caso do
momento no mundinho político de
Brasília, a reunião nebulosa e pendente de confirmação entre Dilma
Rousseff e Lina Vieira. Qual a chance de um motorista, secretária ou
assessor de baixo escalão se animar
e contar a verdade? Se tiverem juízo, todos ficarão calados.
Essa foi a lição ministrada pelo
STF a caseiros, mordomos, secretárias e motoristas de poderosos: tomem cuidado. Suas palavras não
valem nada. Terão efeito nulo se desejarem relatar alguma impostura.
Todos vocês correm o risco de terem suas vidas devassadas. Na Justiça local prevalecerá a tradição lusitana, ibérica e obcecada por provas irrefutáveis e cabais para dar
início a um processo.
Ontem, sexta-feira, a Praça dos
Três Poderes estava vazia -apesar
de outro escândalo acabar de ser sepultado. É compreensível ninguém
protestar. Tornou-se arriscado
exercer a cidadania nestes tempos
pós-Francenildo.
frodriguesbsb@uol.com.br
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