São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES DNA Brasil: um "Davos Alegre"
RICARDO SEMLER
Com esse início, os 46 convidados escolheram salas temáticas e debateram, com paixão, assuntos como "O Brasil do Por Fora", "Educar, Para Quê?" ou "Quem Manda em Nós?". As salas foram todas cinegrafadas; o evento foi feito em paralelo com inúmeras ONGs; escolas recebiam o sinal ao vivo; Terra, iG, Radiobrás, TV Cultura e Canal Futura transmitiam flashes; e os principais jornais e revistas do país tinham lá alguns de seus melhores jornalistas. Ex-ministros como Celso Lafer debatiam com a Isis Lima, de 17 anos, líder juvenil hábil e calma, enquanto o Aziz Ab'Saber, de 80 anos, tomava posições enérgicas. João Pedro Stedile discutia com sua nêmesis, Luiz Suplicy Hafers. Antropólogos, psiquiatras, líderes comunitários (entre eles a ministra Marina Silva e o padre Julio Lancellotti), cientistas sociais como José Arthur Giannotti, Hermano Vianna e Olgária Matos tomavam a palavra, às vezes dizendo algo que eles mesmos nunca haviam se ouvido falar. Os discursos alongados eram evitados por um jovem músico que tocava clarineta ou violino depois de cada minuto e meio, e a quase totalidade dos convidados aceitou exercer uma incômoda síntese. Houve também um exercício estressador, provocando proposições e demonstrando que uma metodologia de procura de inteligência coletiva não é ainda conhecida. O que resulta num país em que os governantes, de qualquer espectro, abandonam as milhares de horas de estudo e debate no primeiro dia de governo. "Esqueçam o que escrevi e falei" são comuns a quase todos os partidos. O método heterodoxo, que colocou os 46 participantes sentados numa orquestra sinfônica, tendo na regência Stedile, que infiltrou personagens como falsos tetraplégicos, mendigos e engraxates para observar as reações do "povo", que inventou o "cantor de churrascaria", em que cada um tinha dois minutos para dar o seu "blá" durante refeições, gerou uma enorme energia construtiva. Claro, nenhum consenso foi gerado, e teria sido absurdo imaginá-lo possível. Mas o sucesso retumbante foi o aceite, por mais de 40 deles, de serem membros do Conselho de Fundadores do Instituto DNA Brasil, que ora abre suas portas. Seu primeiro produto, o Índice DNA Brasil, já é novidade: mede o Brasil de hoje como porcentagem do Brasil desejável, mas realista, dos 46 que nos deram suas intuições. Suas visões das sete dimensões e 24 índices que foram aglomerados num só resultaram num Brasil que é metade do que esse coletivo gostaria de ver. A partir de agora, sob a gestão do Caio Túlio Costa, provocará encontros e reflexões regionais e setoriais, auscultará a sociedade e os profundos pensamentos estratégicos e até poderá promover, além do evento anual que veio se apelidando de "Davos Alegre" -por juntar o melhor de um fórum econômico com o de um fórum social-, um evento-espelho em que a exata demografia dos brasileiros será representada: em termos de gênero, geografia, renda e etnia. Algo inusitado. Tanto quanto o DNA Brasil, que já nasce irrequieto, indisposto a fazer tudo como dantes. Ricardo Semler, 45, empresário, presidente da Semco, é professor convidado do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e autor de, entre outros livros, "The Seven-Day Weekend" (Portfolio). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Arnaldo Niskier: Por que estamos longe? Índice |
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