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JOSÉ SARNEY
Urna e verdade eleitoral
AS ELEIÇÕES continuam
sendo um momento crítico
desta invenção antiga, o autogoverno. Da democracia direta
na praça do povo até hoje, a questão fundamental é encontrar a
vontade do eleitor, a "verdade
eleitoral".
O Brasil caminhou excepcionalmente no processo de votação. Ele
distanciou-se para melhor do sistema eleitoral com uma velocidade
impressionante. No Império, vigorou a eleição censitária, isto é,
aquela que exigia que os eleitores
fossem pessoas de posse. Era uma
eleição indireta entre os eleitores
de paróquia, e a lei mandava que
antes se celebrasse missa e "te
deum".
Mas logo houve a preocupação
de criar um processo eleitoral: vieram as leis dos Círculos e a Lei do
Terço. Veio a obsessão do conselheiro Saraiva, com a introdução da
eleição direta, em 1881. Mas eram
eleições sem povo. Sem povo
-com o "povo bestificado"-, fizemos a República.
Campo Sales, com a política dos
governadores, pretendeu fazer representações legítimas com a fraude. Anotadas a bico de pena, mostrando a cédula ao presidente da
mesa, o processo terminava com as
depurações que ficaram célebres
com Pinheiro Machado, de quem
se conta a frase: "Menino, tu não
serás reconhecido por três razões:
a terceira é que não foste eleito".
A Revolução de 1930, que deveria transformar as eleições, terminou com Getúlio acabando com
elas. 1946 voltou com novas idéias,
inclusive o alistamento obrigatório, fruto de nossa necessidade de
legitimar a democracia com o voto
do povo. Vieram a cédula oficial, os
serviços de alistamento -eu mesmo apresentei vários projetos
criando o Serviço Nacional de Alistamento Eleitoral. Mas os mortos
continuavam sendo convocados
para votar. Presidente, o ministro
Néri da Silveira me apresentou o
projeto do título eletrônico, para
acabar com o eleitor falso. Daí foi
um passo para a máquina de votar.
Embora a chance de fraude na
urna seja remota, resta a vulnerabilidade que sempre existe na informática na transmissão dos dados. Mas o TSE já tem experiência
e tecnologia para evitar qualquer
hacker ou fraudador.
Não é só o problema da boca de
urna, do abuso do poder econômico. Formamos um dos maiores colégios eleitorais do mundo, mas
não conseguimos formar o essencial: um sistema de representação
baseado em partidos. Para isso,
precisamos acabar com a excrescência do voto proporcional uninominal, com a competição entre
candidatos de um mesmo partido,
a falta de idéias e programas coletivos. É discurso velho: faz 32 anos
que apresentei o primeiro projeto
de voto distrital misto.
Louvemos o exemplo da urna
eletrônica e vamos passar para a
reforma política.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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