São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Cromo alemão ou chinelinho?

SÃO PAULO - Quando José Simão cunhou a expressão "o país da piada pronta", imagino que estivesse sendo irônico. Mas o tal país esmerou-se tanto, tanto, que a ironia virou fato. Pior: a frase acabou sendo atropelada, porque, além de "piada pronta", o Brasil (o Brasil político ao menos) já entrega o "deboche pronto", o "escracho pronto" e algumas outras coisas que o decoro me impede de explicitar.
Vejamos: um país em que a Secretaria de Longo Prazo dura cem dias é uma piada, certo? Quer dizer, uma piada cara, porque, junto com a secretaria viriam (ou virão ainda) 660 cargos, muitos com remuneração que não é piada, não.
Como se a cara piada não bastasse, vem o senador Wellington Salgado de Oliveira (PMDB-MG), suplente entronizado no cargo porque o titular, Hélio Costa, virou ministro, e acrescenta o escracho. Diz, honestamente, que os senadores que votaram contra a secretaria só querem um "chinelinho novo", não precisa ser um agrado tipo "sapato de cromo alemão".
É cena de fisiologia explícita. E barata. Se é para ser fisiológico, que seja pelo sapato de cromo alemão, para mostrar que o pessoal se vende, sim, mas se vende caro. Vem também o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), e diz que "tudo o que foi ouvido nem tudo foi ouvido" (foi pelo menos a declaração dele que a CBN pôs no ar ontem à tarde). O que ele quer dizer exatamente com isso só os especialistas em romerojuquismo poderão explicar.
Suspeito que ele quis dizer o seguinte: o presidente Lula não ouviu os pedidos de "chinelinho novo" feitos pela turma do PMDB do Senado. Só teria atendido os que querem "sapato de cromo alemão". Fecha o círculo do deboche o próprio Lula ao dizer que não faz barganha e que a negociação com os partidos é "programática".
Qual é o programa? Sapato de cromo ou chinelinho?


crossi@uol.com.br

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