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CLÓVIS ROSSI
Cromo alemão ou chinelinho?
SÃO PAULO - Quando José Simão
cunhou a expressão "o país da piada
pronta", imagino que estivesse sendo irônico. Mas o tal país esmerou-se tanto, tanto, que a ironia virou fato. Pior: a frase acabou sendo atropelada, porque, além de "piada
pronta", o Brasil (o Brasil político
ao menos) já entrega o "deboche
pronto", o "escracho pronto" e algumas outras coisas que o decoro
me impede de explicitar.
Vejamos: um país em que a Secretaria de Longo Prazo dura cem dias
é uma piada, certo? Quer dizer, uma
piada cara, porque, junto com a secretaria viriam (ou virão ainda) 660
cargos, muitos com remuneração
que não é piada, não.
Como se a cara piada não bastasse, vem o senador Wellington Salgado de Oliveira (PMDB-MG), suplente entronizado no cargo porque o titular, Hélio Costa, virou ministro, e acrescenta o escracho.
Diz, honestamente, que os senadores que votaram contra a secretaria só querem um "chinelinho novo", não precisa ser um agrado tipo
"sapato de cromo alemão".
É cena de fisiologia explícita. E
barata. Se é para ser fisiológico, que
seja pelo sapato de cromo alemão,
para mostrar que o pessoal se vende, sim, mas se vende caro.
Vem também o líder do governo
no Senado, Romero Jucá (PMDB),
e diz que "tudo o que foi ouvido
nem tudo foi ouvido" (foi pelo menos a declaração dele que a CBN pôs
no ar ontem à tarde). O que ele quer
dizer exatamente com isso só os especialistas em romerojuquismo poderão explicar.
Suspeito que ele quis dizer o seguinte: o presidente Lula não ouviu
os pedidos de "chinelinho novo"
feitos pela turma do PMDB do Senado. Só teria atendido os que querem "sapato de cromo alemão".
Fecha o círculo do deboche o próprio Lula ao dizer que não faz barganha e que a negociação com os
partidos é "programática".
Qual é o programa? Sapato de
cromo ou chinelinho?
crossi@uol.com.br
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