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JOSÉ SARNEY
Deus inspira Bush
Não há como fugir de falar sobre
eleição. No Brasil e nos Estados
Unidos. No Brasil, não há como fugir
de São Paulo, que afinal ficou sendo a
cara da eleição e onde se misturaram
problemas locais da cidade gigante
-e gigantes são seus problemas-
com a disputa nacional, com conotações que vão do crescimento econômico até Guaribas, onde o Fome Zero
não matou a fome de votos do prefeito
que perdeu.
A conduta do presidente Lula foi impecável. Cumpriu seu dever de solidariedade com os companheiros, na capa formal das mensagens dos programas eleitorais, sem comprometer sua
autoridade e sem permitir que o governo se envolvesse na campanha.
Até hoje não sei por que não se discute a necessidade de segundo turno
na eleição de prefeitos e governadores.
Participei da campanha da UDN em
favor da maioria absoluta, querendo
atingir Juscelino na sua disputa com
Juarez Távora, em 1955. O argumento
da maioria absoluta era muito forte. O
presidente da República representa a
soberania nacional. Deve ser o presidente de todos os brasileiros. Portanto
necessita, como chefe de Estado, da
maioria absoluta dos votos, metade
mais um, para investi-lo na autoridade soberana da nação, o que não acontecia com as eleições que permitiam
eleitos com qualquer votação, um vigésimo, um terço dos votos. O sistema
enfraquecia a instituição da Presidência e a governabilidade.
O argumento era esse. Agora pergunta-se: por que aplicar essa regra a
prefeitos se eles não exercem qualquer
soberania? São meros administradores municipais. E por que, se o argumento for outro, fixar o limite em municípios com mais de 200 mil eleitores? Se é princípio, deveria ser aplicado a todos.
A incorporação desse princípio na
Constituição foi de ordem política, para valorizar os partidos de esquerda na
escolha das grandes cidades.
O domingo vem aí e vai acabar com
essa busca dos institutos de pesquisa,
que agora incluíram os parâmetros de
votos válidos, que, somados às margens de erro, tornam a coisa tão difícil,
ou tão fácil, que qualquer resultado
das urnas está nas previsões.
Agora a eleição americana. Quem
está no Brasil não avalia o que o Bush,
em busca da reeleição, fez com os Estados Unidos. Convenceu o povo de
que a guerra não é no Iraque, é contra
o terrorismo. Ele não fala em Iraque,
só na guerra contra o terror. E mete
medo, dizendo que estão ameaçados,
que o ataque está chegando -e haja
alerta amarelo, vermelho e alarme.
Tudo "cesta básica", dessas que se distribuem no Brasil para "convencer" os
eleitores.
Todos estão com medo. A América
está com medo, pensando nesta guerra invisível que diz estar chegando e só
ele, Bush, combater. É uma coisa irracional e difícil de acreditar. A América
profunda, essa senhora do mundo,
isolacionista e sectária, está convencida disso, e quem não acredita é traidor. Daí o cuidado de Kerry -que, às
vezes, parece incoerência- em lidar
com essa realidade. Apesar disso, a
disputa está empatada.
A coisa está de tal maneira que perguntaram a Bush quem o aconselhava
a esse comportamento e um repórter
adiantou: "Foi seu pai, o Bush velho".
Bush respondeu: "Não, eu não iria por
tão pouco, foi meu Pai, que está no
céu. É ele meu orientador".
Veja o que Bush fez com Deus. Colocou-o nessa tarefa inglória de orientá-lo a matar e a torturar os miseráveis
iraquianos, mais miseráveis que as cabras que vagam pelo deserto da antiga
Babilônia!
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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