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CLÓVIS ROSSI
A Volks e o cassino
SÃO PAULO - Você abre o jornal
de manhã e ousa percorrer a coleção sem fim de tragédias que é, hoje,
o noticiário econômico. Lá na undécima página, fica sabendo que a
Volkswagen vai conceder férias coletivas de dez dias para 1.800 funcionários da unidade de São José
dos Pinhais (PR).
Aí, pensa, distraído: "Vixe, essa
empresa está indo pro vinagre".
Que nada, companheiro. É justamente o contrário: pelo menos ontem, a Volks (a mundial) tornou-se
a companhia de maior valor de capitalização no planeta (ou seja, o valor de todas as suas ações na Bolsa
de Valores superou o de qualquer
outra instituição, inclusive a portentosa Exxon).
Como é possível, se a indústria
automobilística é a segunda maior
vítima da crise global, logo atrás da
construção/imóveis?
Trata-se apenas de um exemplo
"das distorções que se produzem
hoje em dia nos mercados", diz
Juan José Ruiz, o economista-chefe do Santander (na Espanha).
Se, em vez de distorções, falasse
em cassino, estaria mais perto da
realidade. Acontece que "hedge
funds", esses que vão apostando em
vários ativos, para defenderem-se
de eventuais perdas em um deles,
decretaram que as cotações da VW
permaneceriam em queda. Aí vem a
Porsche e anuncia que quer aumentar a sua fatia na Volks.
O pessoal dos "hedge funds" correu desesperado para cobrir suas
posições e cada ação da montadora
voou dos 210 da sexta-feira para
1.005 em dado ponto de ontem.
Uma coisa, portanto, é a vida real,
em que férias coletivas significam
queda nas vendas. Outra coisa, bem
diferente, é o cassino, em que férias
coletivas nada significam. É por isso -entre outras mil razões- que,
cada vez que vejo economista fingindo que faz análises lógicas sobre
o mercado, levo a mão ao coldre.
Não que tenha um revólver, mas,
nessas horas, dá vontade de ter.
crossi@uol.com.br
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