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PLÍNIO FRAGA
Uh! para Judas
RIO DE JANEIRO - Alguma coisa
está errada quando entrar para o
partido é a forma mais rápida de ascensão social. Esta análise, feita por
um líder sul-africano, aparece no
documentário "Os Sonhos Sobrevivem ao Poder?", da cientista política libanesa Jihan El-Tahri, recentemente exibido no Festival do Rio,
sobre a era do CNA (Congresso Nacional Africano) à frente da África
do Sul.
Desde o fim do apartheid, o CNA
governa por meio de uma ampla
aliança, que inicialmente contou
até com aqueles que reprimiram os
negros e encarceram Nelson Mandela por 27 anos. A própria aliança
com Judas, como citou Lula.
Nos 124 minutos do filme, impressiona a semelhança entre CNA
e PT. Os dois partidos foram criados da costela de um líder de massas. De agremiações de esquerda
ortodoxa, tornaram-se maleáveis às
ideias econômicas liberais, lotearam o poder e enfrentaram graves
acusações de corrupção.
Ex-correspondente no Oriente
Médio, Jihan El-Tahri fez uma obra
retilínea, sem grande invenção cinematográfica, mas equidistante na
narrativa da disputa entre os dois
representantes mais importantes
da política sul-africana depois de
Mandela: Thabo Mbeki e Jacob Zuma, este atual presidente. Acusado
de estuprar uma mulher com Aids,
Zuma é absolvido da relação sexual
forçada, mas, cândido, aparece dizendo que fez sexo com a acusadora
sem preservativo porque acreditava que bastava se higienizar com
água após o ato.
A impressão final é que os sonhos
são depauperados pela política. A
imensa alegria e cantoria dos sul-africanos até nas convenções partidárias soa inocente perto do ministro que interfere por um grupo alemão em licitação de milhões de dólares em armamentos. A massa
dança e urra por seu líder, sem saber que faz "uh!" para Judas.
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