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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Vilmar não vai votar
SÃO PAULO - Falou-se muito em
direito à vida neste segundo turno.
Quase sempre de modo oportunista
ou com propósitos obscurantistas.
Dilma Rousseff e José Serra gostam de enfatizar que o objetivo final
de seus governos é "cuidar das pessoas". As propagandas insistem em
nos mostrar personagens pobres,
emocionados diante daquele a
quem atribuem alguma conquista.
O núcleo da mensagem é arcaico
-o que deveria ser um direito aparece como bondade e favor. Sem
contar o apelo novelesco, melodramático, à custa da miséria.
Pois bem. Vilmar Camargo dos
Santos não vai votar. Tinha 47 anos
e era pedreiro. Morreu na terça-feira, depois de agonizar numa calçada na região central de São Paulo.
Com dor no peito, procurou um
posto de saúde (uma UBS/AMA,
onde, em tese, há consultas agendadas e atendimento ambulatorial
de emergência). Na recepção, no
entanto, indicaram-lhe o pronto-socorro na quadra ao lado. Vilmar
morreu no meio do caminho, em
frente a uma escola. Estava, segundo a reportagem, "a 20 passos de
uma Unidade Básica de Saúde e a
40 passos de um pronto-socorro
municipal". Ninguém se mexeu,
nem na UBS nem no hospital, para
salvar sua vida. O IML levou quatro
horas para remover o corpo.
Alguém ousaria dizer que Vilmar
é "um caso isolado"? Parece, antes,
um caso exemplar do que ainda significa ser pobre no Brasil.
Duas semanas atrás, noticiou-se
a morte da aposentada Magda dos
Santos, de 61 anos, que esperou em
vão durante cinco dias por atendimento adequado num posto de
saúde da Baixada Fluminense depois de ter sofrido um AVC.
Vilmar e Magda são vítimas do
sistema público de saúde, a cuja
precariedade estão condenadas
150 milhões de pessoas sem condições de pagar plano privado. Direito à vida? Comecemos por essa tragédia social sem rosto, estampada
no destino desses dois personagens
acidentais da campanha eleitoral.
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