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São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Aqueles que pensaram no "Brasil grande"

CARLOS DE MEIRA MATTOS

A crise política que abala o Brasil, projetando um quadro de incompetência administrativa e epidêmica corrupção, vem produzindo um sentimento generalizado de descrença no destino do país.
Notáveis pensadores nacionais e estrangeiros que estudaram as potencialidades geográficas, os recursos naturais e os feitos históricos de nossa gente na preservação da unidade nacional e da integridade territorial não tiveram dúvida em nos prognosticarem um destino de futura potência política.


Acreditamos que nossos potenciais geográficos e humanos superarão a mediocridade do atual momento político


Acreditamos que nossas potencialidades geográficas e humanas superarão a mediocridade do momento político que vivemos. É hora de resgatarmos a auto-estima nacional e tentarmos levantar o ânimo, reavivando a crença no Brasil. Vamos relembrar algumas personalidades de respeitável saber político e sociológico que, em seus livros e publicações várias, deixaram uma mensagem de fé no destino de grandeza deste nosso imenso torrão natal.
Já nos albores da descoberta, em 1578, o historiador português Gabriel Soares de Sousa, de passagem pelo Brasil, deslumbrado pela grandeza e riqueza geográfica, assim marcou sua impressão no livro "Tratado Descritivo do Brasil": "Está capaz para edificar nele um grande império, o qual, com pouca despesa destes reinos, se fará tão soberano que será um dos Estados do mundo".
Essa linha de pensamento, de que o Brasil possui as condições para se tornar uma das grandes nações do planeta, vem sendo uma constante na mente e na avaliação dos melhores pensadores de nossa história: Pombal, Alexandre Gusmão, José Bonifácio, Rio Branco, Alberto Torres, Oliveira Vianna. Entre os nossos geopolíticos e entre os autores e políticos mais modernos (Mario Travassos, Everardo Backheuser, Golbery do Couto e Silva, Terezinha de Castro, San Thiago Dantas, Juscelino Kubitschek, Médici), todos reconheceram essa possibilidade de grandeza ao alcance do Estado brasileiro. A partir da criação da Escola Superior de Guerra, em 1949, ali se concentraram os estudos de uma política e uma estratégia para alcançarmos a meta de "grandes".
Não se trata de sonho de patriotas, mas de avaliação baseada em prospectiva científica fundada em valores geopolíticos inquestionáveis. Renomados pensadores políticos estrangeiros também já se manifestaram sobre a nossa possibilidade de chegar à posição de destacado poder político e econômico, entre os quais salientamos Stefan Zweig, Ray Cline, Henry Kissinger.
Qual a estratégia para alcançarmos o objetivo acima exposto? Qual a grande estratégia para chegarmos a ser "um dos Estados do mundo"?
Nossa posição geográfica no planeta já traçou as linhas mestras dessa estratégia. Uma larga fachada oceânica no Atlântico Sul e uma extensíssima fronteira terrestre com dez Estados. Nosso espaço geográfico cobre, praticamente, a metade da América do Sul. Somos o quarto país do mundo em extensão territorial contínua. Nosso território abriga recursos e riquezas enormes. Nossa estratégia, se quisermos ser politicamente grandes, indica-nos a necessidade de explorar e defender todas as perspectivas favoráveis que nos oferecem a longa testada marítima no Atlântico Sul e de desenvolver e proteger as potencialidades da imensa massa continental.
Para alcançarmos essas duas metas estratégicas básicas é imprescindível termos como prioridade política um Plano de Desenvolvimento Econômico e Social. Com dois terços do território praticamente inexplorados, abrigando riquezas potenciais incalculáveis, somente com um plano dinâmico e eficiente seremos capazes de transformar tais potencialidades em riqueza e poder.
Um exemplo são os Estados Unidos. Com um território continental de superfície equivalente à nossa, pelo desenvolvimento de todo seu espaço geográfico, hauriu riquezas para se tornar a maior potência política do mundo.
Nossos governos, desde a República, produziram numerosa legislação e abundantes projetos, planos e programas de ação, gerais e setoriais, visando alcançar parte dessas metas estratégicas, mas a realização deles, a não ser com raríssimas exceções, ou tem ficado inacabada ou foi abandonada. Por quê? Vemos duas razões capitais: descontinuidade de vontade política e fraqueza de poder econômico.
Um exemplo bastante convincente do que a nação pode esperar de um Plano de Desenvolvimento Econômico e Social realizado com vontade política firme e continuidade administrativa encontramos no artigo "20 anos depois", de autoria de um de nossos mais respeitados economistas, Mario Henrique Simonsen (revista "Exame", 1997).
Ele mostra com dados estatísticos insuspeitos, produzidos pelo Banco Mundial e FMI, que, em apenas 20 anos de gestão política e econômica continuada (de 1964 a 1984), o Brasil deu o seu grande salto -passou do 48º lugar no PIB mundial para a 8ª economia do planeta. Foi o que a mídia internacional costuma referir-se como o "milagre brasileiro".
Perdemos o caminho do "milagre". Não podemos perder a fé de que saberemos reencontrá-lo, autenticando o pensamento de "Brasil Grande".

Carlos de Meira Mattos, 92, general reformado do Exército e doutor em ciência política, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra.


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