São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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GABRIELA WOLTHERS

Lula, o Collor da estatística

RIO DE JANEIRO - Se, neste ano que termina, o governo Lula utilizou argumentos possíveis e imaginários para tentar provar que é diferente da gestão Fernando Henrique, em 2005 talvez não escape de, em pelo menos um quesito, enfrentar comparações com a administração de um outro Fernando. Assim como Collor, que adiou por um ano o Censo, o PT cancelou a contagem populacional que o IBGE faria no próximo ano.
Collor deixou sua marca no Censo. É impossível analisar os dados sem recordar o ex-presidente. Isso porque a série passa por 1950, 1960, 1970, 1980 e, de repente, pula para 1991. Por contenção de despesas, os colloridos atrapalharam a compilação estatística de todo um país. Do ponto de vista do Censo, a década de 1980 teve onze anos. E a de 1990, nove anos.
Como um país muda em uma década, o IBGE realiza uma contagem populacional no intervalo entre os Censos. Ela é uma espécie de minicenso -todos os domicílios são pesquisados, mas sem entrar em tantos detalhes sobre as condições econômicas e sociais da população.
O governo Lula simplesmente cancelou a contagem, alegando a tal contenção de despesas. Com isso, será impossível atualizar com exatidão a população dos municípios, já que a Pnad, feita anualmente, é por amostragem e seus dados são sobre os Estados. O IBGE até faz uma projeção, mas não consegue detectar fluxos migratórios nem a dinâmica de crescimento das cidades. Além disso, a pesquisa traria uma dado fundamental para o governo federal: quantas famílias têm de fato acesso a programas de transferência de renda, sejam municipais, estaduais ou federal.
Os reflexos de tal decisão serão duradouros. Um prefeito que se eleger em 2008 terá de lidar com dados do Censo de 2000 para seu planejamento, a menos que decida fazer um levantamento por conta própria. Isso sem falar do Fundo de Participação dos Municípios, verba distribuída pela União para as prefeituras e que tem como base a população de cada cidade. Em suma, um típico exemplo de economia que custará caro.

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