|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GABRIELA WOLTHERS
Lula, o Collor da estatística
RIO DE JANEIRO - Se, neste ano que
termina, o governo Lula utilizou argumentos possíveis e imaginários para tentar provar que é diferente da
gestão Fernando Henrique, em 2005
talvez não escape de, em pelo menos
um quesito, enfrentar comparações
com a administração de um outro
Fernando. Assim como Collor, que
adiou por um ano o Censo, o PT cancelou a contagem populacional que o
IBGE faria no próximo ano.
Collor deixou sua marca no Censo.
É impossível analisar os dados sem
recordar o ex-presidente. Isso porque
a série passa por 1950, 1960, 1970,
1980 e, de repente, pula para 1991. Por
contenção de despesas, os colloridos
atrapalharam a compilação estatística de todo um país. Do ponto de vista
do Censo, a década de 1980 teve onze
anos. E a de 1990, nove anos.
Como um país muda em uma década, o IBGE realiza uma contagem populacional no intervalo entre os Censos. Ela é uma espécie de minicenso
-todos os domicílios são pesquisados, mas sem entrar em tantos detalhes sobre as condições econômicas e
sociais da população.
O governo Lula simplesmente cancelou a contagem, alegando a tal
contenção de despesas. Com isso, será
impossível atualizar com exatidão a
população dos municípios, já que a
Pnad, feita anualmente, é por amostragem e seus dados são sobre os Estados. O IBGE até faz uma projeção,
mas não consegue detectar fluxos migratórios nem a dinâmica de crescimento das cidades. Além disso, a pesquisa traria uma dado fundamental
para o governo federal: quantas famílias têm de fato acesso a programas de transferência de renda, sejam
municipais, estaduais ou federal.
Os reflexos de tal decisão serão duradouros. Um prefeito que se eleger
em 2008 terá de lidar com dados do
Censo de 2000 para seu planejamento, a menos que decida fazer um levantamento por conta própria. Isso
sem falar do Fundo de Participação
dos Municípios, verba distribuída pela União para as prefeituras e que
tem como base a população de cada
cidade. Em suma, um típico exemplo
de economia que custará caro.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Pensar e chutar Próximo Texto: Vinicius Mota: Que tal burocratizar o BC? Índice
|