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Ataques no Rio
Atentados do crime organizado se parecem com os ocorridos em São Paulo e requerem reação enérgica da polícia
O MOMENTO dos ataques
deflagrados por organizações criminosas
no Rio de Janeiro foi
escolhido a dedo. As ações ocorreram a três dias de um dos mais
tradicionais Réveillons do mundo e a quatro da posse do novo
governo estadual. Seu trágico
saldo de 18 mortos e mais de 20
feridos escancara quão frágil anda a segurança pública, não apenas no Rio mas em todo o país.
O pior é que investidas de máfias criminosas contra policiais e
outros representantes do Estado
bem como contra cidadãos inocentes estão se tornando rotina.
Neste ano que se encerra, São
Paulo assistiu a pelo menos três
séries de ataques orquestrados
pela quadrilha que se auto-intitula Primeiro Comando da Capital. Ao que parece, essa nova tecnologia do terror já está sendo
exportada.
Ainda é cedo para um diagnóstico definitivo sobre o que ocorreu no Rio. As hipóteses são várias, e não se pode excluir nem
mesmo uma combinação delas.
O atual secretário da Segurança Pública do Rio, Roberto Precioso, atribui as ações a criminosos presos, que estariam tentando arrancar concessões e privilégios do novo governo. O titular
da pasta ainda se gabou de ter
"evitado o pior", afirmando que a
polícia tinha informações de que
os ataques eram iminentes e se
preparou para enfrentá-los. Se a
informação era segura como o
secretário sugere, por que a população não foi alertada?
Outra possível explicação para
os ataques é que eles são uma
reação do sindicato do crime às
chamadas milícias, os bandos de
policiais, ex-policiais e bombeiros que vêm assumindo o controle de morros após matar e expulsar traficantes. No comando,
essas milícias, ao melhor estilo
da máfia dos paramilitares colombianos, passam a extorquir
moradores e comerciantes cobrando-lhes taxas diversas, de
proteção, pela utilização de serviços de transporte alternativo
(van, mototáxi), por botijão de
gás e até por ligações clandestinas de TV a cabo.
Nos últimos anos, vem crescendo a proporção de favelas sob
o controle de milícias, o que teria
levado quadrilhas de traficantes
rivais a unirem-se contra o inimigo comum. A polícia fluminense não reconhece oficialmente a existência das milícias.
Sejam quais forem as causas da
tragédia de ontem no Rio, espera-se que o futuro governador,
Sérgio Cabral (PMDB), seja intransigente no cumprimento da
lei. Em relação aos criminosos,
deve ser implacável na identificação e na captura dos responsáveis pelos atentados. Se a ordem
para os ataques de fato partiu dos
presídios, as lideranças devem
ser imediatamente submetidas a
regimes disciplinares que as deixem incomunicáveis.
Já no que diz respeito às milícias, também elas têm de ser desarticuladas, e seus membros,
julgados e punidos. O policial
que abandona o caminho da lei
não se distingue mais do bandido. E o Estado que permite ou tolera práticas como essa está a um
passo da falência.
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