São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

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Ataques no Rio

Atentados do crime organizado se parecem com os ocorridos em São Paulo e requerem reação enérgica da polícia

O MOMENTO dos ataques deflagrados por organizações criminosas no Rio de Janeiro foi escolhido a dedo. As ações ocorreram a três dias de um dos mais tradicionais Réveillons do mundo e a quatro da posse do novo governo estadual. Seu trágico saldo de 18 mortos e mais de 20 feridos escancara quão frágil anda a segurança pública, não apenas no Rio mas em todo o país.
O pior é que investidas de máfias criminosas contra policiais e outros representantes do Estado bem como contra cidadãos inocentes estão se tornando rotina. Neste ano que se encerra, São Paulo assistiu a pelo menos três séries de ataques orquestrados pela quadrilha que se auto-intitula Primeiro Comando da Capital. Ao que parece, essa nova tecnologia do terror já está sendo exportada.
Ainda é cedo para um diagnóstico definitivo sobre o que ocorreu no Rio. As hipóteses são várias, e não se pode excluir nem mesmo uma combinação delas.
O atual secretário da Segurança Pública do Rio, Roberto Precioso, atribui as ações a criminosos presos, que estariam tentando arrancar concessões e privilégios do novo governo. O titular da pasta ainda se gabou de ter "evitado o pior", afirmando que a polícia tinha informações de que os ataques eram iminentes e se preparou para enfrentá-los. Se a informação era segura como o secretário sugere, por que a população não foi alertada?
Outra possível explicação para os ataques é que eles são uma reação do sindicato do crime às chamadas milícias, os bandos de policiais, ex-policiais e bombeiros que vêm assumindo o controle de morros após matar e expulsar traficantes. No comando, essas milícias, ao melhor estilo da máfia dos paramilitares colombianos, passam a extorquir moradores e comerciantes cobrando-lhes taxas diversas, de proteção, pela utilização de serviços de transporte alternativo (van, mototáxi), por botijão de gás e até por ligações clandestinas de TV a cabo.
Nos últimos anos, vem crescendo a proporção de favelas sob o controle de milícias, o que teria levado quadrilhas de traficantes rivais a unirem-se contra o inimigo comum. A polícia fluminense não reconhece oficialmente a existência das milícias.
Sejam quais forem as causas da tragédia de ontem no Rio, espera-se que o futuro governador, Sérgio Cabral (PMDB), seja intransigente no cumprimento da lei. Em relação aos criminosos, deve ser implacável na identificação e na captura dos responsáveis pelos atentados. Se a ordem para os ataques de fato partiu dos presídios, as lideranças devem ser imediatamente submetidas a regimes disciplinares que as deixem incomunicáveis.
Já no que diz respeito às milícias, também elas têm de ser desarticuladas, e seus membros, julgados e punidos. O policial que abandona o caminho da lei não se distingue mais do bandido. E o Estado que permite ou tolera práticas como essa está a um passo da falência.


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