São Paulo, sábado, 29 de dezembro de 2007

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Até na creche

EMPREGAR parentes não é em todos os casos um mal. Há um número restrito de situações em que a relação entre um político eleito e um assessor requer intimidade e total confiança -traços que às vezes só se encontram num amigo ou num parente. Enunciados corretos como esse correm o risco de tornar-se ingenuidade hilariante na realidade brasileira, tamanho é o nepotismo.
Reportagem desta Folha descobriu que todos os sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo empregam parentes em cargos preenchidos sem concurso. Estrita confiança? Um conselheiro abrigou os cinco filhos em seu gabinete. Um deles tem a fidelíssima missão de conferir cabeçalhos de cartas, para o que recebe dos contribuintes R$ 12 mil mensais.
Lealdade canina tampouco seria atributo necessário para trabalhar na creche do TCE. Mas um conselheiro achou por bem colocar a nora no posto e explicou a escolha: é porque ela tem diploma de psicóloga e as próprias mães que usam o serviço pediram. Foi por aclamação.
A psicologia talvez venha a desvendar o mecanismo mental usado por autoridades na tentativa de justificar esses abusos. Enquanto isso não acontece, o caminho mais eficiente para coibir o nepotismo desenfreado é diminuir ao mínimo necessário os cargos de livre provimento. Normas antinepotismo estão sendo adotadas nos três Poderes e também terão algum impacto.
O nepotismo é parte do empreguismo que marca os tribunais de contas. Cargos vitalícios, salários de R$ 21 mil e verba farta para nomear apaniguados são dispensáveis para o objetivo dessas instituições. Elas deveriam ser reformadas para atuar apenas como órgãos técnicos de auditoria, com todos os cargos preenchidos por concurso.


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