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Até na creche
EMPREGAR parentes não é em
todos os casos um mal. Há
um número restrito de situações em que a relação entre
um político eleito e um assessor
requer intimidade e total confiança -traços que às vezes só se
encontram num amigo ou num
parente. Enunciados corretos
como esse correm o risco de tornar-se ingenuidade hilariante na
realidade brasileira, tamanho é o
nepotismo.
Reportagem desta Folha descobriu que todos os sete conselheiros do Tribunal de Contas do
Estado de São Paulo empregam
parentes em cargos preenchidos
sem concurso. Estrita confiança? Um conselheiro abrigou os
cinco filhos em seu gabinete. Um
deles tem a fidelíssima missão
de conferir cabeçalhos de cartas,
para o que recebe dos contribuintes R$ 12 mil mensais.
Lealdade canina tampouco seria atributo necessário para trabalhar na creche do TCE. Mas
um conselheiro achou por bem
colocar a nora no posto e explicou a escolha: é porque ela tem
diploma de psicóloga e as próprias mães que usam o serviço
pediram. Foi por aclamação.
A psicologia talvez venha a
desvendar o mecanismo mental
usado por autoridades na tentativa de justificar esses abusos.
Enquanto isso não acontece, o
caminho mais eficiente para coibir o nepotismo desenfreado é
diminuir ao mínimo necessário
os cargos de livre provimento.
Normas antinepotismo estão
sendo adotadas nos três Poderes
e também terão algum impacto.
O nepotismo é parte do empreguismo que marca os tribunais de contas. Cargos vitalícios,
salários de R$ 21 mil e verba farta para nomear apaniguados são
dispensáveis para o objetivo dessas instituições. Elas deveriam
ser reformadas para atuar apenas como órgãos técnicos de auditoria, com todos os cargos
preenchidos por concurso.
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